São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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TELEVISÃO
Jô Soares põe açúcar na realidade

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Jô Soares não poderia estar mais contente. Está na TV Globo e no programa que sempre quis que ela permitisse. Com o passado do SBT, ninguém por lá vai pedir que ele desista e volte para a comédia. Mas bem que no final de cada show de entrevistas, uma visita aos arquivos mostra alguma coisa que ele fazia na cata habitual de risos e aplausos.
Na noite em que ele foi surpreendido como uma Alice (oh, tão delicada!) em pleno país das maravilhas, a lembrança não foi muito apropriada. Ele acabava de conversar em demorada intimidade com o ex-presidente e escritor José Sarney. Falavam de livros. "Estamos muito bem de livros", lembrou o ex-presidente. Um livro dele andava pelo mundo em diferentes edições e traduções. E os do Jô, de Xangô a Getúlio, vendem sem parar. Na hora de vestir o fardão, o voto do Sarney já está no papo, não?
A entrevista com o Sarney foi tão demorada que deu para mostrar o escritor-presidente retratado como um curador de aldeia. Nesse novo talento, o Antonio Carlos Magalhães vira franciscano, o Pedro Simon, pregador, e o Saulo Ramos, um simples jesuíta. Uma perguntinha sobre atualidades vira doce recusado no chá prazeroso. Com os cabelos ainda no mesmo tom presidencial, Sarney afirma que não quer comentar as baixarias no Senado. Falava-se de prazeres, vaidades e gentilezas. Realidade pede açúcar.
A visita do Sarney fez o primeiro programa bem-nutrido da nova fase. A conversa com Ciro Gomes, na noite anterior, poderia ter rendido mais. Ninguém é mais simpático. Um escoteiro que vira presidente nunca está em apuros. Ciro Gomes é o bom. Mostrar a namorada dele num beijo cinematográfico para constrangê-lo? Que tolice! Haverá alguma coisa de embaraçosa em oferecer manteiga à candidata Marta Suplicy?
No programa do Sarney houve uma rápida visita do Antonio Fagundes, logo chamado de "Fafá" , de homem que as mulheres preferem e recordista de Dario Fo no Brasil. Daí virão os cabelos brancos, que preocupações presidenciais não trazem? Fafá está no filme "Bossa Nova" com Amy Irving, aquela que começava a ser atriz quanto casou com o Steven Spielberg do cinema-dólar. Entra Amy, sai Fafá.
De paletó cor-de-rosa, Amy ainda é atriz profissional. Começa logo a conversa com um "fuck off" e uma banana gestual. Tudo em português. Não sobra mais farelo do bolo que a Dercy Gonçalves assou no fogão de lenha. Mas Amy Irving é totalmente profissional. Sobre "Bossa Nova", disse que a Kathleen Turner perguntou por que ela não trepava com o Fafá.
Depois ainda se misturou com os músicos do sexteto e cantou, toda jazzy, "Why Don't You Do Right", lari e lará. Um programa e tanto para quem, um dia antes, estava sendo informado do aproveitamento do ânus entre os gregos e romanos. Jô nunca esteve tão bem. Com Julinho Rego, o homem-elegância, na patrulha.


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