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TELEVISÃO
Jô Soares põe açúcar na realidade
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Jô Soares não poderia estar
mais contente. Está na TV Globo
e no programa que sempre quis
que ela permitisse. Com o passado do SBT, ninguém por lá vai pedir que ele desista e volte para a
comédia. Mas bem que no final
de cada show de entrevistas, uma
visita aos arquivos mostra alguma coisa que ele fazia na cata habitual de risos e aplausos.
Na noite em que ele foi surpreendido como uma Alice (oh,
tão delicada!) em pleno país das
maravilhas, a lembrança não foi
muito apropriada. Ele acabava
de conversar em demorada intimidade com o ex-presidente e escritor José Sarney. Falavam de livros. "Estamos muito bem de livros", lembrou o ex-presidente.
Um livro dele andava pelo mundo em diferentes edições e traduções. E os do Jô, de Xangô a Getúlio, vendem sem parar. Na hora
de vestir o fardão, o voto do Sarney já está no papo, não?
A entrevista com o Sarney foi
tão demorada que deu para mostrar o escritor-presidente retratado como um curador de aldeia.
Nesse novo talento, o Antonio
Carlos Magalhães vira franciscano, o Pedro Simon, pregador, e o
Saulo Ramos, um simples jesuíta.
Uma perguntinha sobre atualidades vira doce recusado no chá
prazeroso. Com os cabelos ainda
no mesmo tom presidencial, Sarney afirma que não quer comentar as baixarias no Senado. Falava-se de prazeres, vaidades e gentilezas. Realidade pede açúcar.
A visita do Sarney fez o primeiro programa bem-nutrido da nova fase. A conversa com Ciro Gomes, na noite anterior, poderia
ter rendido mais. Ninguém é mais
simpático. Um escoteiro que vira
presidente nunca está em apuros.
Ciro Gomes é o bom. Mostrar a
namorada dele num beijo cinematográfico para constrangê-lo?
Que tolice! Haverá alguma coisa
de embaraçosa em oferecer manteiga à candidata Marta Suplicy?
No programa do Sarney houve
uma rápida visita do Antonio Fagundes, logo chamado de "Fafá" ,
de homem que as mulheres preferem e recordista de Dario Fo no
Brasil. Daí virão os cabelos brancos, que preocupações presidenciais não trazem? Fafá está no filme "Bossa Nova" com Amy Irving, aquela que começava a ser
atriz quanto casou com o Steven
Spielberg do cinema-dólar. Entra
Amy, sai Fafá.
De paletó cor-de-rosa, Amy ainda é atriz profissional. Começa logo a conversa com um "fuck off" e
uma banana gestual. Tudo em
português. Não sobra mais farelo
do bolo que a Dercy Gonçalves assou no fogão de lenha. Mas Amy
Irving é totalmente profissional.
Sobre "Bossa Nova", disse que a
Kathleen Turner perguntou por
que ela não trepava com o Fafá.
Depois ainda se misturou com
os músicos do sexteto e cantou,
toda jazzy, "Why Don't You Do
Right", lari e lará. Um programa
e tanto para quem, um dia antes,
estava sendo informado do aproveitamento do ânus entre os gregos e romanos. Jô nunca esteve
tão bem. Com Julinho Rego, o homem-elegância, na patrulha.
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