São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO
As dimensões de Eduardo Portella

CARLOS HEITOR CONY
do Conselho Editorial

"Não sou ministro. Estou ministro." A frase, pronunciada pelo então ministro da Educação do governo João Figueiredo, em sua simplicidade radical ficou sendo uma das melhores expressões do velhíssimo problema que tenta definir a relação do intelectual com o poder. Pronunciou-a, em causa própria, Eduardo Portella, que aceitara o cargo num momento em que a abertura política fora julgada iminente.
O tema, aliás, frequenta sua obra de ensaísta e crítico de literatura. Um de seus livros, publicado pela Tempo Brasileiro, editora que fundou e até hoje dirige, tem o título de "O intelectual e o Poder". Nele, o ensaio "O Renascimento da Utopia" desenvolve magistralmente aquela frase pronunciada num momento de sua biografia: "E daí também a necessidade de o intelectual guardar, como arma não tão secreta, o trunfo da insubmissão. A alternativa da insubordinação deve recuperar o ser do estar. Até porque nós só temos o que podemos perder; o que não podemos perder nos tem".
Baiano, formado em Recife, onde conviveu com Gilberto Freyre, fez estudos na Espanha, quando foi aluno de Dámaso Alonso e Carlos Bousoño; mais tarde, na Itália, onde recebeu aulas de Ungaretti; e de Bataillon, no Collège de France e na Sorbonne, tornando-se assim o crítico mais bem equipado de sua geração.
Num contexto romântico, em que prevalecia o impressionismo individual que na maioria das vezes descamba para o achismo que até hoje predomina o setor, Portella construiu uma sólida reputação não apenas na crítica da literatura, mas dos assuntos brasileiros em geral.
Sua série "Dimensões", que poderia servir até de contraponto aos "Estudos", de Tristão de Athayde, é obra de referência indispensável do nosso tempo. Diretor da Biblioteca Nacional, com passagem em diversos cargos ligados ao setor cultural, ele se define apenas como crítico literário. Um de seus ensaios mais importantes tem um título instigante: "Democracia Transitiva".


Texto Anterior: Vida pessoal é digna dos seus filmes
Próximo Texto: Palestra: Folha e ABL discutem a modernidade
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.