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ARTIGO
As dimensões de Eduardo Portella
CARLOS HEITOR CONY
do Conselho Editorial
"Não sou ministro. Estou ministro." A frase, pronunciada pelo
então ministro da Educação do
governo João Figueiredo, em sua
simplicidade radical ficou sendo
uma das melhores expressões do
velhíssimo problema que tenta
definir a relação do intelectual
com o poder. Pronunciou-a, em
causa própria, Eduardo Portella,
que aceitara o cargo num momento em que a abertura política
fora julgada iminente.
O tema, aliás, frequenta sua
obra de ensaísta e crítico de literatura. Um de seus livros, publicado
pela Tempo Brasileiro, editora
que fundou e até hoje dirige, tem
o título de "O intelectual e o Poder". Nele, o ensaio "O Renascimento da Utopia" desenvolve
magistralmente aquela frase pronunciada num momento de sua
biografia: "E daí também a necessidade de o intelectual guardar,
como arma não tão secreta, o
trunfo da insubmissão. A alternativa da insubordinação deve recuperar o ser do estar. Até porque
nós só temos o que podemos perder; o que não podemos perder
nos tem".
Baiano, formado em Recife, onde conviveu com Gilberto Freyre,
fez estudos na Espanha, quando
foi aluno de Dámaso Alonso e
Carlos Bousoño; mais tarde, na
Itália, onde recebeu aulas de Ungaretti; e de Bataillon, no Collège
de France e na Sorbonne, tornando-se assim o crítico mais bem
equipado de sua geração.
Num contexto romântico, em
que prevalecia o impressionismo
individual que na maioria das vezes descamba para o achismo que
até hoje predomina o setor, Portella construiu uma sólida reputação não apenas na crítica da literatura, mas dos assuntos brasileiros em geral.
Sua série "Dimensões", que poderia servir até de contraponto
aos "Estudos", de Tristão de
Athayde, é obra de referência indispensável do nosso tempo. Diretor da Biblioteca Nacional, com
passagem em diversos cargos ligados ao setor cultural, ele se define apenas como crítico literário.
Um de seus ensaios mais importantes tem um título instigante:
"Democracia Transitiva".
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