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"Mochileiro" espacial retorna às prateleiras
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Seja apenas uma coincidência
sem sentido, como brincava o autor, ou parte de um cada vez
maior intenso interesse por ficção
científica, Douglas Adams volta às
prateleiras do Brasil com sua "trilogia em cinco partes". "The Hitchhiker's Guide to the Galaxy" foi
publicado na Inglaterra em 1979,
e traduzido no Brasil em 86, pela
editora Brasiliense, com o título
de "O Mochileiro das Galáxias". A
nova edição, que conta com ótimo prefácio de Bradley Trevor
Greive, corrige o título, aproximando-o do original: "O Guia do
Mochileiro das Galáxias".
Seguindo a tradição do clássico
inglês "As Aventuras de Gulliver",
de Johnathan Swift (publicado em
1726 e precursor do gênero ficção
científica), o "Guia" parte de uma
constatação contemporânea para
criar um universo absurdo que
funciona como crítica e sátira ao
comportamento humano. E se
Swift criou o falso diário de bordo
do Doutor Lemuel Gulliver a partir da febre de publicações sobre
os recém-descobertos confins da
Terra, o "Guia" fundiu a cultura
dos caroneiros que fervia na Europa dos anos 60 com o interesse
da segunda metade do século 20
pela conquista do espaço.
A saga começa com a última rodada de bebidas entre Arthur
Dent e Ford Prefect. Arthur é um
inglês típico, com manias e convicções que o tornam tão exótico
quanto os alienígenas que iremos
conhecer nas páginas seguintes.
Prefect é um de seus melhores
amigos e, aparentemente, apenas
um ator desempregado. Mas esconde um segredo.
Ele é, na verdade, um pesquisador de campo do livro "O Guia do
Mochileiro das Galáxias", "o mais
extraordinário livro jamais publicado pelas grandes editoras da
Ursa Menor", um compêndio eletrônico com dicas de viagens pelo
espaço resumido numa espécie de
palmtop com cem teclas, cuja capa anunciava "...NÃO ENTRE
EM PÂNICO". Nascido no planeta de Betelguese, Ford é o único
ser na Terra que percebe que o
planeta está prestes a ser destruído -o que de fato acontece- e
convence o amigo a acompanhá-lo em sua viagem de volta ao outro lado da galáxia.
O que parece uma história absurda e nonsense é, na verdade,
uma desculpa para Adams ridicularizar a natureza humana em
criar problemas inexistentes e se
estranhar consigo mesma.
Da cosmogonia de Adams, saltaram para a realidade nomes como "Babelfish" (tradutor online
do site Altavista), além de influenciar o disco mais celebrado do
grupo Radiohead: a frase "OK
Computer" saiu do "Guia", e "Paranoid Android" (Andróide Paranóico) é como um dos personagens da saga é descrito.
A série de livros foi publicada
logo após o enorme sucesso da
primeira versão da saga, que surgiu como uma radionovela transmitida pela BBC. Adams chegou a
trabalhar na cultuada série "Dr.
Who" e a escrever quadros para o
programa do grupo Monty
Python. Mas foi com o "Guia" que
se tornou conhecido.
O livro fez mais sucesso que a
série de rádio, dando origem a
desdobramentos que geraram
uma série para a TV, video game,
peças de teatro, quadrinhos, além
da própria saga literária, que ainda teve outros quatro volumes.
A nova edição de "Mochileiro"
contempla a publicação dos próximos livros ao estampar o número 1 na capa e anunciar os próximos três lançamentos: "O Restaurante no Fim do Universo", "A
Vida, o Universo e Tudo Mais" e
"Até Mais, e Obrigado pelos Peixes!", todos já publicados no Brasil. Falta definir se o único livro da
série inédito no país ("Mostly
Harmless", de 92) será incluído
na programação da editora.
A obra de Adams, que morreu
vítima de ataque cardíaco em
2001, aos 49 anos, volta a gerar interesse, culminando a realização
de um filme baseado na série, a
ser lançado no ano que vem.
O GUIA DO MOCHILEIRO DAS
GALÁXIAS. Autor: Douglas Adams.
Editora: Sextante. Quanto: R$ 19,90 (210
págs.).
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