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MÚSICA
Show acústico do cantor havaiano reuniu 20 mil pessoas na última sexta, em SP, com som relax e fácil de gostar
Jack Johnson é suave e não se envergonha
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mulheres são mais inteligentes que homens. A alma
feminina é sempre a primeira a
perceber a pura beleza das coisas
sem precisar racionalizar demais
sobre aquilo. É um fato: você sabe
que pode confiar nos artistas que
atraem grande público feminino
-assim como deve desconfiar de
artistas e estilos com público exclusivamente masculino. Fãs femininas garantem mais chances
de sucesso e coerência artística e
menos propensão a bobagens
ególatras e sofismas emocionais.
Se você comprar essa teoria,
Jack Johnson é artista com garantia de qualidade e selo de aprovação. Das mais de 20 mil pessoas
presentes na apresentação do surfista havaiano que canta baixinho
e toca violão, na última sexta, no
Anhembi, mais da metade eram
mulheres (jovens bronzeadas,
com barriga à mostra, calça jeans
justa, cabelos longos e brincos de
argola. Mas isso é tema para revista de comportamento).
De certa forma, o show, afinal, é
meio chato. Por duas horas, ele
toca seus hits, "Times Like These", "Good People", "Sitting Waiting Wishing", e a música segue
sem grandes variações. Jack Johnson nunca sobe o tom de voz, a
batida do violão varia pouco, o
andamento das músicas é sempre
mais ou menos o mesmo. Não há
refrãos explosivos ou "atitude".
Mas a verdade é que isso é argumento válido apenas para as vítimas da síndrome pós-Nirvana de
refrãos barulhentos e guitarras
destruídas. Johnson faz música
suave e não se envergonha disso.
Por que deveria? Críticos musicais podem exigir atualidade, relevância e inovação, Jack Johnson
está mais preocupado em fazer
músicas boas que façam as pessoas se sentirem bem.
No seu liqüidificador de groove
relax, há espaço para soul, folk,
reggae, cover de Led Zeppelin
("Whole Lotta Love") e White
Stripes ("My Doorbell") e citação
de Jorge Ben ("Mas que Nada").
Tudo acústico, sossegado, acompanhado por um trio de baixo
fluido, bateria suave e detalhes tocados no piano, escaleta ou acordeão. Em um lugar pequeno, talvez as sutilezas funcionassem melhor. Mas há algo de fenomenal
em um cara que consegue, sozinho com um violão, criar uma catarse coletiva em 20 mil pessoas.
Com seu som brando e fácil de
gostar, talvez seja forçado (ou ainda cedo para) chamá-lo de grande
artista. Mas ainda criticá-lo com
os mesmos argumentos simplórios da época em que o John Lennon de "Imagine" era considerado poeta profundo e relevante e o
Paul McCartney de "Silly Love
Songs" bobinho e dispensável é
ainda mais ingênuo do que as letras de Jack Johnson.
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