São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

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Caetano homenageia Jean Charles

Cantor mostra em Londres canção inédita que cita Rice e Bin Laden

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

"London, London", a canção composta por Caetano Veloso em 1970 como um tributo à capital britânica, onde viveu exilado por dois anos e meio durante a ditadura, foi dedicada ontem pelo artista à memória do brasileiro Jean Charles de Menezes.
Em show num abarrotado teatro do centro cultural Barbican, o primeiro da programação musical de uma mostra sobre o Tropicalismo abrigada no local, Caetano, falando em inglês, fazia um comentário sobre a música. "Deve ser a canção mais engraçada, a mais estranha das que compus em Londres. É curioso, é muito famosa no Brasil, os brasileiros que vêm morar aqui a conhecem, mas Londres não a conhece. Então é uma espécie de segredo. Eu queria dedicá-la a memória de Jean Charles de Menezes, o brasileiro assassinado", disse, antes de executá-la, sozinho ao violão. A platéia, de brasileiros, aplaudiu.
A ironia é que "London, London", delicada e que revela um encantamento de Caetano com a cortesia e a paz proporcionadas pela cidade, cita a generosidade de um policial "que parece gratificado em agradar" um grupo que o aborda.
Jean Charles foi morto em julho passado pela polícia londrina numa estação de metrô, ao ser confundido com um terrorista suicida. O Crown Prosecution Service, equivalente ao Ministério Público britânico, deve divulgar no meio do ano sua decisão sobre o caso. Caberá ao órgão, com base na investigação da Comissão Independente de Queixas Contra a Polícia, definir se irá processar os policiais.

Osama e Condoleezza
Foi uma noite consagradora para ele. Acompanhado pela banda + 2, da qual seu filho Moreno faz parte, Caetano estava radiante, embalado pelo público, que cantou com ele alguns dos seus maiores sucessos e músicas-símbolo do Tropicalismo.
O show foi aberto com a tropicalista "Enquanto Seu Lobo Não Vem", seguida por "Baby". Do período, cantou ainda "Alegria, Alegria", mas não "Tropicália".
Quando voltou para o bis, depois de ser aplaudido de pé, Caetano interpretou, possivelmente pela primeira vez em público, uma canção do próximo álbum de inéditas, que está prestes a ser gravado. É uma balada romântica, que relata no início uma paixão e termina cinicamente com uma confissão ateísta que fala no terrorista Osama bin Laden e na secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. "Então o indizível se divisa/e a luz de tantos céus inunda a mente/Entretanto, diferente de Osama e Condoleezza, eu não acredito em Deus."
De tão fresca que está a música, errou ao cantar a estrofe final. Saiu do palco ovacionado.
No show, ele não falou de política. Mas, em entrevista à revista "Leros", voltada para a comunidade brasileira do Reino Unido, e ao site da BBC Brasil, reafirmou suas críticas ao governo Lula. "Eu não voto em Lula de novo nem que a vaca tussa", declarou à "Leros". À BBC Brasil, disse que não pensa em votar em Geraldo Alckmin (PSDB), citando como seu preferido o filósofo Roberto Mangabeira Unger, do recém-criado PRB.


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