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Caetano homenageia Jean Charles
Cantor mostra em Londres canção inédita que cita Rice e Bin Laden
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
"London, London", a canção
composta por Caetano Veloso
em 1970 como um tributo à capital britânica, onde viveu exilado por dois anos e meio durante
a ditadura, foi dedicada ontem
pelo artista à memória do brasileiro Jean Charles de Menezes.
Em show num abarrotado
teatro do centro cultural Barbican, o primeiro da programação
musical de uma mostra sobre o
Tropicalismo abrigada no local,
Caetano, falando em inglês, fazia um comentário sobre a música. "Deve ser a canção mais
engraçada, a mais estranha das
que compus em Londres. É curioso, é muito famosa no Brasil,
os brasileiros que vêm morar
aqui a conhecem, mas Londres
não a conhece. Então é uma espécie de segredo. Eu queria dedicá-la a memória de Jean Charles de Menezes, o brasileiro assassinado", disse, antes de executá-la, sozinho ao violão. A
platéia, de brasileiros, aplaudiu.
A ironia é que "London, London", delicada e que revela um
encantamento de Caetano com
a cortesia e a paz proporcionadas pela cidade, cita a generosidade de um policial "que parece
gratificado em agradar" um
grupo que o aborda.
Jean Charles foi morto em julho passado pela polícia londrina numa estação de metrô, ao
ser confundido com um terrorista suicida. O Crown Prosecution Service, equivalente ao Ministério Público britânico, deve
divulgar no meio do ano sua decisão sobre o caso. Caberá ao órgão, com base na investigação
da Comissão Independente de
Queixas Contra a Polícia, definir
se irá processar os policiais.
Osama e Condoleezza
Foi uma noite consagradora
para ele. Acompanhado pela
banda + 2, da qual seu filho Moreno faz parte, Caetano estava
radiante, embalado pelo público, que cantou com ele alguns
dos seus maiores sucessos e músicas-símbolo do Tropicalismo.
O show foi aberto com a tropicalista "Enquanto Seu Lobo Não
Vem", seguida por "Baby". Do
período, cantou ainda "Alegria,
Alegria", mas não "Tropicália".
Quando voltou para o bis, depois de ser aplaudido de pé,
Caetano interpretou, possivelmente pela primeira vez em público, uma canção do próximo
álbum de inéditas, que está
prestes a ser gravado. É uma balada romântica, que relata no
início uma paixão e termina cinicamente com uma confissão
ateísta que fala no terrorista
Osama bin Laden e na secretária
de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. "Então o indizível se divisa/e a luz de tantos céus inunda a mente/Entretanto, diferente de Osama e Condoleezza, eu
não acredito em Deus."
De tão fresca que está a música, errou ao cantar a estrofe final. Saiu do palco ovacionado.
No show, ele não falou de política. Mas, em entrevista à revista
"Leros", voltada para a comunidade brasileira do Reino Unido,
e ao site da BBC Brasil, reafirmou suas críticas ao governo
Lula. "Eu não voto em Lula de
novo nem que a vaca tussa", declarou à "Leros". À BBC Brasil,
disse que não pensa em votar
em Geraldo Alckmin (PSDB),
citando como seu preferido o filósofo Roberto Mangabeira Unger, do recém-criado PRB.
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