São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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NY Dolls recriam gênese punk

Referência para grupos hoje clássicos como Ramones e Sex Pistols, banda toca pela primeira vez no Brasil

Vocalista e guitarrista são únicos remanescentes da formação original do New York Dolls, que faz shows em SP hoje e no Recife

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O egípcio de origem judaica Sylvain Mizrahi, 55, deverá visitar pela primeira vez seus primos brasileiros. "Eles são donos de um estacionamento aí em São Paulo. Vamos ver se consigo vê-los", diz à Folha.
Um programa leve entre as duas possibilidades que o Brasil terá -hoje, no Hangar 110, em São Paulo, e amanhã, no festival Abril pro Rock, no Recife- de ver a recriação de uma das trajetórias mais importantes da história do rock: os New York Dolls, em que o guitarrista atende por Sylvain Sylvain.
"Quando estou diante do espelho e ponho a maquiagem e a peruca, digo a David [Johansen, vocalista] que foi ótimo usar tudo isso desde o início.
Agora, nós realmente precisamos", brinca, em referência aos cabelos hoje mais rarefeitos.
Frutos de uma época de tédio musical -"Tudo que se ouvia na época parecia ópera", diz Sylvain, sobre a Nova York de 1971-, os New York Dolls casaram moda abusada, rock calcado em blues e performance andrógina. De salto alto, criaram elementos que ecoariam nas apoteoses de testosterona do punk e do metal.
"Estávamos dirigindo o carro às cegas, sem frear", diz Sylvain. "Queríamos ser galerias ambulantes de arte e nos divertir. Em 1975, estávamos tão à frente do nosso tempo que até hoje fazemos sentido", afirma ele, com a autoridade de quem se sente "resgatado" geração após geração.
"Quando Joey Ramone morreu [2001], Bono [do U2] disse que os Ramones tinham sido uma enorme influência para ele. E sem nós, não teria havido a cena que criou os Ramones."

Clássicos
Foram os suburbanos Dolls que iniciaram a onda que inspirou conterrâneos, como Ramones, Television e Blondie, e londrinos, como os Sex Pistols. O som furioso e a atitude provocadora, porém, não lhes reservaram sucesso comercial. Antes de a formação clássica se desintegrar, em 1975, deixaram dois LPs clássicos -"New York Dolls" (1973) e "Too Much Too Soon" (1974)-, hits pirotécnicos, como "Looking for a Kiss" e "Personality Crisis", e uma horda de fãs. Um deles, Morrissey, ex-líder dos Smiths, os reuniu em 2004. De tão seminais, os NY Dolls até podem negar alguns de seus herdeiros, como o Kiss.
"Acho esquisito eles dizerem isso pois nunca tocaram blues.
Sempre foram pop demais."
Sylvain é, ao lado do vocalista David Johansen, um sobrevivente dos anos de excessos, que levaram o baterista Billy Murcia, o guitarrista Johnny Thunders (mortos de overdose) e o baixista Jerry Nolan (infarto).
Em 2004, logo após se reunirem, perderam o baterista Arthur Kane, leucêmico. "Estive com Jamie, a filha de Johnny, na gravação do nosso DVD, em 2006, e ela me disse que ele amaria nos ver no palco hoje. Tenho certeza de que os amigos que se foram nos ajudam lá de cima."
Vêm junto Sam Yaffa (Hanoi Rocks, baixo), Steve Conte (guitarra) e Brian Delaney (bateria). E do Brasil de seus primos, Sylvain, conhece algo? "Dee Dee e Joey sempre nos diziam que tocar aí é fantástico.
Vamos tocar por uma hora e meia." O repertório? "Todas as que ainda soubermos."


NEW YORK DOLLS
Quando:
hoje, às 21h
Onde: Hangar 110 (r. Rodolfo Miranda, 110, SP; tel. 0/xx/11/ 3229-7442)
Quanto: R$ 120


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