São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Com cara de boteco chique, Pandoro reabre e traz de volta clientes das antigas

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

A entrada não é mais pela varanda envidraçada. O balcão, ainda de aço inox, mudou de lugar. O chão de cerâmica vermelha deu espaço a um mosaico de pastilhas de porcelana pretas, brancas e cinza. O ambiente está mais amplo, menos iluminado. Nas paredes de madeira, há uma profusão de caricaturas.
Sim, o visual do Pandoro, o mítico ponto de encontro de boêmios e reduto de intelectuais e artistas, já não é mais o mesmo. Está mais para boteco carioca chique. E quem se importa? Dizem os habituês que o "espírito" do bar se manteve.
Quase dois anos depois de ter sido fechado, em clima de comoção, o bar de 1953, onde nasceu o famoso caju amigo, recebeu anteontem, num revival saudosista, apenas seus clientes mais fiéis. Lá também estavam o ator John Herbert, o prefeito Gilberto Kassab e o senador Jorge Bornhausen.
Tocada pelo publicitário Edgard Sahyoun e pelo arquiteto João Armentano, a casa reabre ao público nesta segunda, no mesmo número 60 da Cidade Jardim, no Jardim Europa.

Gotas de "segredo"
Atrás do balcão, o impecável barman Guilhermino Ribeiro dos Santos, 54, estava de volta, radiante, preparando levas e mais levas do drinque-ícone da casa, o caju amigo -feito com compota de caju, suco concentrado, vodca e gotas de "segredo". Foi Santos quem convidou muitos dos clientes mais assíduos para a reinauguração. "Eu tinha o cartão de quase todos", conta ele, que começou no bar aos 19 anos. "Voltar é o maior prazer do mundo. Quem me via em outros bares dizia que o meu lugar era no Pandoro."
Na mesa em frente, um grupo das antigas também se sentia em casa novamente e nem se abalou com a queda de luz -um fio caiu e, por um bom tempo, a casa ficou às escuras. "Está totalmente diferente, mas e daí? Tinha 17 anos quando vim aqui pela primeira vez. É um negócio de infância. Vou morrer aqui dentro", diz o administrador Alfredo Gabriel Jr., 72.
Durante os anos de decadência do Pandoro, em que o bar, imerso em dívidas, agonizou, os amigos tentaram adotar outro bar. Em vão. "Todas as vezes que pensávamos em arrumar um novo ponto de encontro, não dava certo e voltávamos à origem: o Pandoro", diz o engenheiro Orlando Rodrigues, 64, que foi lá pela primeira vez com os pais, em 1954.
Afinal, qual é o encanto do Pandoro? "É uma coisa incrível. Dá sete horas, você está no escritório, de saco cheio, e quer ir a algum lugar. Aí, vem ao Pandoro e sempre encontra um amigo para papear", diz o empresário Laércio Gabrielli, 58.


PANDORO
Endereço:
av. Cidade Jardim, 60, Jardim Europa,
tel. 0/xx/11/3063-1621
Funcionamento: seg. a dom., das 12h à 1h
Cartões: todos
Preços: chope Brahma, R$ 4,20



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