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Com cara de boteco chique, Pandoro reabre e traz de volta clientes das antigas
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
A entrada não é mais pela varanda envidraçada. O balcão,
ainda de aço inox, mudou de lugar. O chão de cerâmica vermelha deu espaço a um mosaico de
pastilhas de porcelana pretas,
brancas e cinza. O ambiente está mais amplo, menos iluminado. Nas paredes de madeira, há
uma profusão de caricaturas.
Sim, o visual do Pandoro, o
mítico ponto de encontro de
boêmios e reduto de intelectuais e artistas, já não é mais o
mesmo. Está mais para boteco
carioca chique. E quem se importa? Dizem os habituês que o
"espírito" do bar se manteve.
Quase dois anos depois de ter
sido fechado, em clima de
comoção, o bar de 1953, onde
nasceu o famoso caju amigo, recebeu anteontem, num revival
saudosista, apenas seus clientes mais fiéis. Lá também estavam o ator John Herbert, o prefeito Gilberto Kassab e o senador Jorge Bornhausen.
Tocada pelo publicitário Edgard Sahyoun e pelo arquiteto
João Armentano, a casa reabre
ao público nesta segunda, no
mesmo número 60 da Cidade
Jardim, no Jardim Europa.
Gotas de "segredo"
Atrás do balcão, o impecável
barman Guilhermino Ribeiro
dos Santos, 54, estava de volta,
radiante, preparando levas e
mais levas do drinque-ícone da
casa, o caju amigo -feito com
compota de caju, suco concentrado, vodca e gotas de "segredo". Foi Santos quem convidou
muitos dos clientes mais assíduos para a reinauguração. "Eu
tinha o cartão de quase todos",
conta ele, que começou no bar
aos 19 anos. "Voltar é o maior
prazer do mundo. Quem me via
em outros bares dizia que o
meu lugar era no Pandoro."
Na mesa em frente, um grupo
das antigas também se sentia
em casa novamente e nem se
abalou com a queda de luz -um
fio caiu e, por um bom tempo, a
casa ficou às escuras. "Está totalmente diferente, mas e daí?
Tinha 17 anos quando vim aqui
pela primeira vez. É um negócio de infância. Vou morrer
aqui dentro", diz o administrador Alfredo Gabriel Jr., 72.
Durante os anos de decadência do Pandoro, em que o bar,
imerso em dívidas, agonizou, os
amigos tentaram adotar outro bar. Em vão. "Todas as vezes que pensávamos em arrumar um novo ponto de encontro, não dava certo e voltávamos à origem: o Pandoro", diz o
engenheiro Orlando Rodrigues, 64, que foi lá pela primeira vez com os pais, em 1954.
Afinal, qual é o encanto do
Pandoro? "É uma coisa incrível. Dá sete horas, você está no
escritório, de saco cheio, e quer
ir a algum lugar. Aí, vem ao
Pandoro e sempre encontra um
amigo para papear", diz o empresário Laércio Gabrielli, 58.
PANDORO
Endereço: av. Cidade Jardim, 60, Jardim Europa,
tel. 0/xx/11/3063-1621
Funcionamento: seg. a dom.,
das 12h à 1h
Cartões: todos
Preços: chope Brahma, R$ 4,20
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