São Paulo, domingo, 10 de abril de 2011

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CRÍTICA ROCK

Músico produz disco pop sem dispensar experimentalismos


OXALÁ A UNIÃO COM O HURTMOLD CONTINUE FIRME E FORTE, PORQUE O MAIOR ENTROSAMENTO COM A BANDA FEZ TODA A DIFERENÇA


ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA DO GUIA FOLHA

Em versão solo, Marcelo Camelo finalmente reencontrou seu tom e, com "Toque Dela", criou um incrível álbum pop experimental.
Das singelas ilustrações do artista Biel Carpenter que estão no encarte aos incontáveis instrumentos utilizados para compor cada faixa, tudo parece ter sido pensado para soar impecável.
A delicadeza e o clima melancólico do disco anterior, "Sou" (2008), persistem, mas, agora, não há uma música que seja aborrecida, o que faz de seu primeiro registro pós-Los Hermanos um trabalho de transição.
E não poderia ser diferente: na época, Camelo estava trocando o Rio por São Paulo e abandonando a confortável posição de líder de uma das maiores bandas do país para enveredar numa inusitada parceria com o Hurtmold, grupo instrumental de pós-rock, "cult" no cenário underground.
De lá para cá, a vibrante diversidade sonora dos paulistanos contaminou o carioca e, se no primeiro CD, ele tocava apenas guitarra ou violão, em "Toque Dela", Camelo aparece conduzindo bateria, baixo, pandeirola e metalofone, entre outros.
Isso está presente já na primeira composição, "A Noite", uma poesia na qual versos como "Triste é viver só de solidão/ Pena de quem nunca esteve aqui pra ver fazer dormir/ A noite" são, primeiramente, marcados pela percussão, à qual, aos poucos, se juntam timbres de clarinete, rabeca, trombone e sax, num ritmo crescente, sem rompantes.
O isolamento é tema que se repete em outras canções, não como lamento, mas, sim, em metáfora para essa nova fase. Assim é em "Tudo que Você Quiser" ("Tudo o que você quiser/ Tempo de recomeçar/ Solidão eu já vivi/ Na cidade que não volta").
Mas Camelo também encontrou seu amor, e o romance é o outro assunto de "Toque Dela". Ele embala o hit "ÔÔ" ("Tudo o que eu fizer vai ser pra ver aos olhos dela"), em que destaca-se a atmosfera festiva do piano do talentoso Marcelo Jeneci.
"Acostumar" foi feita para dançar de rosto colado no salão de baile; "Pra Te Acalmar" pode ser a trilha jazz/ bossa de uma breve despedida -em que brilham Jeneci (piano) e Kassin (guitarra).
São tantos os acertos desse novo Marcelo Camelo que dá para passar horas citando frases ou desvendando as cuidadosas texturas criadas pelos instrumentos. Oxalá a união com o Hurtmold continue firme e forte, porque o maior entrosamento com a banda fez toda a diferença.



TOQUE DELA
ARTISTA Marcelo Camelo
LANÇAMENTO Zé Pereira/Universal
QUANTO R$ 20, em média
AVALIAÇÃO ótimo



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