JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Sociedade de Cultura Artística traz hoje e amanhã récitas do Trio de Milão. O pianista Bruno Canino, a violinista Mariana Sirbu e o violoncelista Rocco Filippini interpretam peças de Haydn, Mendelssohn, Chostakovich, Schubert, Beethoven e Brahms.
Os dois instrumentos de cordas trazidos pelo trio são pequenas preciosidades da luteria de Cremona. O violino de Mariana Sirbu é o Stradivarius Conde de Fontana (1702), que até 1974 pertenceu ao violinista russo David Oistrakh. O violoncelo de Rocco Filippini é outro Stradivarius (1710).
Leia a seguir principais trechos da entrevista concedida por Bruno Canino à Folha.

Folha - O repertório oscilará entre o final do século 18 e o 19. Por que só Chostakovich do século 20?
Bruno Canino - O repertório para trio com piano é basicamente clássico e romântico. Interpretamos poucas peças contemporâneas, e só quando pedem.

Folha - Seus colegas de cordas se apresentam com instrumentos raríssimos. Há nisso algo especial?
Canino - Apesar de fazer música de câmara há 40 anos, e com famosíssimos violinistas e violoncelistas, não sou tão sensível à qualidade de seus instrumentos. Meus colegas brincam comigo e afirmam que, para meus ouvidos, um instrumento de Cremona e um outro chinês, de plástico, são bem semelhantes. Mas creio que a qualidade do músico é bem mais importante que a dos instrumentos.

Folha - Como está o ensino musical na Itália? Os conservatórios asseguram novas gerações?
Canino - Os conservatórios italianos eram extraordinários quando eu era jovem. Em seguida ficaram muito grandes e congestionados. A qualidade caiu. O ruim é que não podem contratar professores de outras nacionalidades. Além disso o excesso de burocracia e os programas de ensino não os torna atraentes.

Folha - O sr. tem queixas contra a política cultural de Berlusconi?
Canino - Berlusconi nada fez para a cultura ou para a música. Diminuiu o apoio do Estado e empurrou seus partidários aos cargos de direção. Mas, antes dele, outros pouco fizeram pelas artes.

Folha - Cada membro do trio de tem currículo individual e carreiras sólidas de solistas. Quantos meses por ano vocês tocam juntos?
Canino - Infelizmente não tocamos juntos tanto quanto gostaríamos. Ficamos juntos dois ou três meses, o que só aumenta o prazer ao nos reencontrarmos.

Folha - Quais são seus planos em gravações?
Canino - Estou preparando gravações que serão feitas no Japão com música italiana do século 19. Farei ainda Debussy e Casella.