São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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"O Sonho" estilhaça narrativa teatral

Nova montagem estréia amanhã com instalação no palco que dá impressão de que os atores crescem

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não há diálogo ou indicação na peça "O Sonho", do sueco August Strindberg (1849-1912), que revelem que a história narrada seja, de fato, sonho. Se o espectador acreditar no título, no entanto, o que vai ver em cena é, naturalmente, a representação daquilo que poderia ter sido sonhado por alguém.
O que não se sabe ao certo, lembra André Guerreiro Lopes, diretor da nova montagem para o texto, que estréia amanhã na Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista, é quem está sonhando: um personagem, o espectador ou o próprio autor?
"Aventuras de Alice no País das Maravilhas" e "Alice Através do Espelho", de Lewis Carroll, e mesmo as diversas mitologias -grega, celta, hindu entre outras- já haviam se utilizado de uma atmosfera onírica para tecer simbologias da vida humana.
"O Sonho" foi publicado em 1901, trinta anos depois de "Alice", mas Strindberg, na busca pela construção de estrutura mais próxima do sonho -ou de como ele é lembrado- estilhaça a estrutura da narrativa teatral, misturando estilos que vão do bufão (usado na obra de Carroll) ao teatro realista.

Tratamento visual
Para entender a composição imagética de suas obras é preciso saber que Strindberg também foi pintor, e que não seria possível montar "O Sonho", entre outras de suas peças, sem tratamento visual elaborado.
Guerreiro Lopes bem sabe disso e, nesta montagem, criou uma espécie de instalação "site specific" (obra de arte feita para um ambiente específico) para o 12º andar da Unidade Provisória do Sesc Avenida Paulista, cujo pé direito não passa de três metros de altura.
O espectador, sentado, vê, de frente para si, um espaço cenográfico baixo e de profundidade longa, como um corredor. Esse espaço, esculpido principalmente em madeira, afunila-se em direção ao seu ponto final, distorcendo a noção de perspectiva. Quando os atores estão no fim desse corredor, a impressão é de que o teto está mais baixo, ou de que os atores cresceram repentinamente. "A sensação de distância fica muito maior se o ator está no fundo.
A geometria cria um desconforto", diz Guerreiro Lopes. É nesse espaço que transcorre a história de Agnes, filha do deus hindu Indra, que desce à Terra para saber como vivem os humanos. O papel é de Djin Sganzerla, filha do cineasta Rogério Sganzerla (1946-2004).
Assim como em Alice, os personagens vão aparecendo um por um, na vida, ou no sonho, da protagonista. Mas Strindberg, comparado a Carroll, tem uma visão mais amarga dos acontecimentos.
Entre suas criaturas, uma ex-dançarina, que deixou de dançar ao perder um grande amor, tece um manto que simboliza todos os lamentos do mundo; e uma espécie de guardião, esperando por sua amada, envelhece, envelhece, envelhece...


O SONHO
Quando:
estréia amanhã. Sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h
Onde: Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, São Paulo, tel. 0/xx/11/3179-3700)
Quando: R$ 15


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