|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"O Sonho" estilhaça narrativa teatral
Nova montagem estréia amanhã com instalação no palco que dá impressão de que os atores crescem
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não há diálogo ou indicação
na peça "O Sonho", do sueco
August Strindberg (1849-1912),
que revelem que a história narrada seja, de fato, sonho. Se o
espectador acreditar no título,
no entanto, o que vai ver em cena é, naturalmente, a representação daquilo que poderia ter
sido sonhado por alguém.
O que não se sabe ao certo,
lembra André Guerreiro Lopes,
diretor da nova montagem para
o texto, que estréia amanhã na
Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista, é quem está sonhando: um personagem, o espectador ou o próprio autor?
"Aventuras de Alice no País
das Maravilhas" e "Alice Através do Espelho", de Lewis Carroll, e mesmo as diversas mitologias -grega, celta, hindu entre outras- já haviam se utilizado de uma atmosfera onírica
para tecer simbologias da vida
humana.
"O Sonho" foi publicado em
1901, trinta anos depois de "Alice", mas Strindberg, na busca
pela construção de estrutura
mais próxima do sonho -ou de
como ele é lembrado- estilhaça a estrutura da narrativa teatral, misturando estilos que vão
do bufão (usado na obra de Carroll) ao teatro realista.
Tratamento visual
Para entender a composição
imagética de suas obras é preciso saber que Strindberg também foi pintor, e que não seria
possível montar "O Sonho", entre outras de suas peças, sem
tratamento visual elaborado.
Guerreiro Lopes bem sabe
disso e, nesta montagem, criou
uma espécie de instalação "site
specific" (obra de arte feita para um ambiente específico) para o 12º andar da Unidade Provisória do Sesc Avenida Paulista, cujo pé direito não passa de
três metros de altura.
O espectador, sentado, vê, de
frente para si, um espaço cenográfico baixo e de profundidade
longa, como um corredor. Esse
espaço, esculpido principalmente em madeira, afunila-se
em direção ao seu ponto final,
distorcendo a noção de perspectiva. Quando os atores estão
no fim desse corredor, a impressão é de que o teto está
mais baixo, ou de que os atores
cresceram repentinamente. "A
sensação de distância fica muito maior se o ator está no fundo.
A geometria cria um desconforto", diz Guerreiro Lopes.
É nesse espaço que transcorre a história de Agnes, filha do
deus hindu Indra, que desce à
Terra para saber como vivem
os humanos. O papel é de Djin
Sganzerla, filha do cineasta Rogério Sganzerla (1946-2004).
Assim como em Alice, os personagens vão aparecendo um
por um, na vida, ou no sonho,
da protagonista. Mas Strindberg, comparado a Carroll, tem
uma visão mais amarga dos
acontecimentos.
Entre suas criaturas, uma ex-dançarina, que deixou de dançar ao perder um grande amor,
tece um manto que simboliza
todos os lamentos do mundo; e
uma espécie de guardião, esperando por sua amada, envelhece, envelhece, envelhece...
O SONHO
Quando: estréia amanhã. Sex. e sáb.,
às 21h30; dom., às 18h
Onde: Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, São Paulo, tel. 0/xx/11/3179-3700)
Quando: R$ 15
Texto Anterior: "Os Leões" vasculha o irreal cotidiano Próximo Texto: Teatro: "Crepúsculo" reúne 3 peças curtas de Samuel Beckett Índice
|