|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Comida
Lado B da Liberdade
Com chef malabarista e milanesa à moda japonesa, restaurantes compõem o ðcircuito alternativo do bairro paulistano
MARCELO KATSUKI
ESPECIAL PARA A FOLHA
É só falar no bairro da Liberdade para vir à mente o restaurante que tem o seu yakisoba
favorito ou o sushiman famoso
que prepara seus temakis como
ninguém. Por que não quebrar
essa rotina do trivial "sushi-yakisoba" das casas famosas e visitar restaurantes que compõem o roteiro alternativo do
bairro paulistano?
Uma fachada escura e um
preço atraente podem afugentar os clientes, desconfiados da
oferta generosa. Esse é o caso
do restaurante Galvão Bueno,
um "3 em 1" da gastronomia
oriental. Lá, as cozinhas chinesa, japonesa e coreana dividem
espaço no mesmo bufê. Carnes
cruas convivem com sushis e
ostras num salão repleto de
churrasqueiras nas mesas. No
meio daquele fumacê todo, descobre-se que o bul go gui (o
churrasco coreano) tem uma
boa seleção de carnes e um
tempero gostoso. Os sushis são
saborosos; e as ostras, fresquíssimas. Caso não saiba preparar
o churrasco, chame o Ivo Lima.
Os atendentes estão sempre
dispostos a explicar o preparo,
simples, na verdade. Talvez
saia um pouco defumado, mas a
visita valhe a pena.
Já os fãs do macarrão chinês
devem conhecer o Rong He. A
discreta casa passa desapercebida até para quem transita à
pé. O mesmo não se pode dizer
de seus pratos, chamativos e
muito picantes, típicos da cozinha do norte da China. E que tal
assistir ao chef esticando sua
massa com as mãos antes de levá-la ao caldeirão, sem utilizar
cilindro nem faca para cortar os
fios? Um show de malabarismo: a massa estica, gira, torce,
divide-se. Além do chaomamian (macarrão picante com
frutos do mar), não saia de lá
sem provar o giucaihezi, um
pastel recheado de macarrão
harussame, camarão e nirá, a
perfumada cebolinha silvestre.
De sobremesa, o doushasujiao
é a pedida certa: um pastelzinho recheado de pasta de feijão, cozido no vapor e depois
frito, bem delicado -um bom
contraponto para uma refeição
de sabores tão fortes.
Meio escondido e com a porta sempre fechada, quem se
aventuraria a adentrar o salão
do Bueno? O proprietário Fernando Kuroda já foi "sumotori"
(lutador de sumô) profissional
e, além de sua brigada de lutadores, ostenta um cardápio em
japonês, o que pode intimidar
-mas uma versão em português já está saindo do forno.
Clássico da casa, o chanko
nabe é uma refeição "de peso"
que garante aos lutadores de
sumô sua forma ideal. O Bueno
reproduz o modelo de "isakaya", os tradicionais bares de petiscos do Japão, com um balcão
repleto de tira-gostos de sabor
autêntico. Para o outono, há
duas novidades: o ishiyaki bi
bim pa (um prato coreano com
legumes e pasta de soja picante
sob arroz e ovo cru, que devem
ser misturados, sendo cozidos
pelo calor da travessa de pedra
na qual é servido) e o okonomiyaki, a "pizza japonesa", mas
aqui feita com abóbora.
Bocados chineses
Com uma fachada modesta e
fora do circuitão dos restaurantes, fica difícil descobrir o Jambo, lugar especializado em dim
sum, os tradicionais bocados
chineses apreciados mundo
afora, mas pouco conhecidos
aqui. Restaurante da simpática
Suzana Chou, o Jambo possui
ainda um farto bufê para o preparo do shabu-shabu chinês,
um tipo de "fondue" de carnes,
frutos do mar, legumes e verduras cozidos em um fumegante
caldo e degustados com um
molho que confere um sabor
acre, adocicado e picante.
Aproveite a visita para tomar
uma dose de Peikan, a cachaça
chinesa com 50º de teor alcoólico e um sutil aroma de jaca.
Mais bem localizado e menos
exótico, o Katsuzen ostenta na
fachada o nome em ideogramas
japoneses, o que dificulta sua
identificação. Não para os japoneses, que adoram a especialidade da casa: milanesa. O próprio nome do restaurante significa "milanesa na bandeja".
Para fazer jus ao título, capricha nos lombos empanados,
preservando a capinha de gordura da carne, detalhe apreciado. O grande sucesso é o tonkatsu: fatias de lombo de porco
à milanesa. Sirva-se à vontade
de tarê, o espesso molho inglês
que vai bem com a fritura.
Já o Okuyama é especializado em "fast food" japonês e em
alguns pratos de Okinawa (província do Japão), como o okinawa soba, um macarrão com saborosas e indiscretas costelinhas de porco e conserva de
gengibre, e o achi ti biti, generosa porção de joelho de porco
lentamente cozida num molho
espesso com cogumelos e gengibre. Assim como os irmãos
Milton e Francisco Okuyama,
que se alternam no salão, a cozinha também é comandada
por dois irmãos: o Zé e o Josias
Rego, que garantem o tempero
apurado. O mais curioso é que
eles são... mineiros. Mas quem
disse que cozinha japonesa era
terreno só de cearense, uai?
MARCELO KATSUKI é editor de arte e foto da
Folha Online e autor do blog "Comes e Bebes"
Colaborou AURÉLIO HISSAO HASHIMOTO
Veja as indicações de personalidades e receitas
Texto Anterior: Artes plásticas: Aquarela de Cézanne atinge US$ 25,5 mi em NY Próximo Texto: Crítica: Osteria del Pettirosso tem cardápio convidativo, mas execução irregular Índice
|