São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS

Plágio leva L&PM a processar editora

Nova Cultural, que já suspendeu venda de 22 títulos suspeitos, será acionada judicialmente por negociar traduções plagiadas

"Divina Comédia" e "Madame Bovary" teriam sido publicados pela editora gaúcha com atribuição incorreta dos tradutores


MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

Conhecida pelos títulos herdados da antiga (e renomada) coleção de clássicos da Abril Cultural, a Nova Cultural tem cada vez mais contestada sua coleção "Obras-Primas", que foi vendida entre 1995 e 2002 em bancas (onde não é mais comercializada) e está à venda pela internet (nos sites www.novacultural.com.br ou www.obrasprimas.com.br).
Já são 22 os títulos em que há confirmação ou suspeita de atribuição errada dos tradutores. Entre os nomes que teriam sido omitidos em novas traduções maquiadas ou simplesmente copiadas, está Mario Quintana, como a Folha noticiou em 15/12/07.
Dois desses títulos, "Madame Bovary" e "A Divina Comédia", tiveram seus direitos revendidos para a editora gaúcha L&PM, em 23/1/03, que os republicou. Com prazo de cinco anos, o contrato venceu em janeiro passado. No documento, ao qual a Folha teve acesso, a Nova Cultural declara ser detentora das traduções de Enrico Corvisieri ("Bovary") e Fábio M. Alberti ("Comédia"). Mas essas traduções estão sendo contestadas por especialistas, que apontam adulterações de versões de Araújo Nabuco e Hernâni Donato.
Agora, o editor da L&PM Ivan Pinheiro Machado anunciou que vai processar a Nova Cultural. "O prejuízo é mais moral", afirma. Mas não é só. A L&PM mandou notificação para todas as livrarias que comercializam seus livros para que devolvessem cópias dos dois títulos em consignação, destruiu os exemplares remanescentes e providenciou novas traduções. Machado afirma que tudo será anunciado no site da editora (www.lpm.com.br). "Vamos divulgar com transparência o que aconteceu, informando as medidas que tomamos e quem é o autor [da tradução] verdadeiro. A gente assume que entrou numa fria."
Machado disse que aguardava um laudo oficial ou o parecer de algum órgão de classe para adotar uma ação judicial. Mas afirmou que as evidências apontadas até agora já são suficientes. As edições da Nova Cultural foram analisadas por um grupo de tradutores que apontam os créditos incorretos nas edições.
Liderando esse grupo, um movimento "pela cidadania e de defesa do nosso patrimônio cultural", está a tradutora Denise Bottman, organizadora desde dezembro passado de um movimento que já reuniu mais de 300 assinaturas de personalidades e profissionais da área. Ela reuniu no site assinado-tradutores.blogspot.com a lista das obras suspeitas e o cotejo das traduções. Ela seguiu as informações publicadas pela Folha em dezembro, além de outras denúncias que já haviam sido apontadas pelo tradutor Ivo Barroso, entre outros.
A Folha já havia denunciado casos de plágio em traduções da editora Martin Claret, em 4/ 11/ 07. E o jornal "O Globo" noticiou novos casos da Nova Cultural no último dia 19/4.


Texto Anterior: Mirisola deu início à polêmica
Próximo Texto: Outro lado: Editora diz que suspendeu as vendas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.