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ANÁLISE
Obra é impregnada de antropologia íntima
LUIZ BRAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Num tempo em que o uso
destrambelhado do Photoshop
edulcora criaturas e cria personagens sem poros e despidos de
suor que ocupam o inconsciente contemporâneo, a vinda de
"Ballad of Sexual Dependency"
é um maravilhoso sopro de vida
inteligente e sensível.
Já era tempo de recebermos
o trabalho mais celebrado de
Nan Goldin. Impregnado de
antropologia íntima, faz borbulhar a banheira de sentimentos
em nós. Impossível ficar inerte.
Em território delicado, desenvolveu-se como um Twitter
de imagens carregadas de afetividade. Nan está em cada grão
dos slides -termo que muitos
usam sem saber a origem dessa
película fotográfica colorida,
em 35 mm, criada para famílias
americanas poderem projetar,
no "home sweet home", sequências de imagens, aniversários, casamentos e viagens.
Nan usou a mesma técnica ao
fotografar amigos, dores e
amantes. Mas o piquenique não
tinha só hambúrgueres e Coca-Cola. Foi moldado entre paredes imperfeitas de uma cidade
íntima onde se ouve a voz de
Marianne Faithful.
Cada imagem é permeada como que de uma necessidade legítima de eternizar momentos
perecíveis. Não se trata de um
documentário. Trata-se de vida, a mesma que carregamos
mas que poucos têm a maestria
de revelar em fotos de carne e
osso, hematomas e fumaça.
"Ryan in the Tub" me levou ao
sobrado da adolescência, mergulho que não tem preço.
LUIZ BRAGA é fotógrafo e esteve no pavilhão
brasileiro da última Bienal de Veneza.
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