São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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ANÁLISE

Obra é impregnada de antropologia íntima

LUIZ BRAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Num tempo em que o uso destrambelhado do Photoshop edulcora criaturas e cria personagens sem poros e despidos de suor que ocupam o inconsciente contemporâneo, a vinda de "Ballad of Sexual Dependency" é um maravilhoso sopro de vida inteligente e sensível.
Já era tempo de recebermos o trabalho mais celebrado de Nan Goldin. Impregnado de antropologia íntima, faz borbulhar a banheira de sentimentos em nós. Impossível ficar inerte.
Em território delicado, desenvolveu-se como um Twitter de imagens carregadas de afetividade. Nan está em cada grão dos slides -termo que muitos usam sem saber a origem dessa película fotográfica colorida, em 35 mm, criada para famílias americanas poderem projetar, no "home sweet home", sequências de imagens, aniversários, casamentos e viagens.
Nan usou a mesma técnica ao fotografar amigos, dores e amantes. Mas o piquenique não tinha só hambúrgueres e Coca-Cola. Foi moldado entre paredes imperfeitas de uma cidade íntima onde se ouve a voz de Marianne Faithful.
Cada imagem é permeada como que de uma necessidade legítima de eternizar momentos perecíveis. Não se trata de um documentário. Trata-se de vida, a mesma que carregamos mas que poucos têm a maestria de revelar em fotos de carne e osso, hematomas e fumaça. "Ryan in the Tub" me levou ao sobrado da adolescência, mergulho que não tem preço.

LUIZ BRAGA é fotógrafo e esteve no pavilhão brasileiro da última Bienal de Veneza.



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