São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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MÚSICA
Giovanna, 53, casada com Paulo Renato, grava canções em espanhol pela Som Livre, vinculada à Rede Globo
Mulher do ministro da Educação lança CD

Lili Martins/Folha Imagem
Giovanna, mulher do ministro da Educação, Paulo Renato, lança CD com canções em espanhol


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

"Jamais gravei CD algum", esclareceu o presidente Fernando Henrique Cardoso, há poucos dias, ao anunciar um "mutirão" do governo contra a pirataria. Ele pode não ter gravado, mas a mulher de seu ministro da Educação gravou.
"Mi Modo de Alumbrar", cantado todo em espanhol pela gaúcha Giovanna, 53, mulher do ministro Paulo Renato Souza, 53, foi gravado e lançado no ano passado, pelo braço fonográfico da Rede Globo, a Som Livre, gravadora que nem conta com um elenco fixo.
"A Som Livre lança regularmente trilhas de novelas, compilações, projetos especiais e Xuxa e Emílio Santiago como artistas contratados. Anualmente, dedica um ou dois produtos a experiências mercadológicas sem expectativas de retorno comercial", justifica o presidente da gravadora, João Araújo.
"Canto desde pequena, mas nunca profissionalmente -só em casas de amigos. Sou dona de casa, escolhi cuidar dos filhos e não me arrependo disso", diz Giovanna.
Ela conta como se deu a chegada tardia ao mercado: "Foi num fim-de-semana numa fazenda, em que estava o João Araújo. Cantei umas coisas, ele gostou e resolveu, com meu marido dando corda, me fazer gravar esse disco".
Ela descarta a possibilidade de se profissionalizar. "Nunca tive uma voz de grande alcance. Não fui eu quem inventou isso, por mim não faria. Não me acho com voz especial para gravar, mas o Paulo me proibiu de dizer isso", brinca.
O ministro confessa-se "coruja" e confirma o lobby para que a mulher gravasse. "No meu entender, ela poderia ter se profissionalizado. Tem uma das vozes mais bonitas que conheço", diz. "Quando morávamos nos Estados Unidos, eu e meus filhos tivemos a idéia de dar um disco de presente para ela. Foi gravado em 1994."
Ele prossegue: "Chama-se "Para os Amigos", só fizemos mil cópias. Ela canta em português, francês, inglês, italiano e espanhol. Fez ela perder um pouco a timidez".
O ministro é econômico ao avaliar se seu status pode ter concorrido para a "revelação" tardia da artista. "Não acredito que tenha nada a ver. Acho que João gostou dela. Se uma editora comercial mostra interesse, não há nenhum problema. Não tem nada a ver."
A cantora fala da origem do repertório em espanhol -incluindo "Besame Mucho", "Índia" e "Tu Me Acostumbraste", entre outras-, na estréia "comercial": "Moramos no Chile entre 1969 e 1978, foi quando cheguei a fazer alguns shows. Cantava num boteco onde iam artistas de música de protesto, que era moda na época. Fazíamos uma caixinha para ajudar os exilados que chegavam".
"Não tinha repertório suficiente, tive que fazer algumas concessões, com repertório que não é bem meu estilo. Não canto boleros, mas parece que comercialmente deviam entrar umas coisas assim."
E o Brasil? "Não conheço muitos autores. Gosto de samba, de música que fala alguma coisa, "Manhã de Carnaval", "A Noite do Meu Bem", Chico Buarque. De Caetano e Gil não tanto, são muito modernosos para mim."
Sobre intérpretes: "Gosto da Bethânia, ela também tem a voz meio grave. Há uma que ouço pouco, mas sempre que ouço gosto, aquela Angela RoRo. Conheço duas músicas, gostei das duas".
Giovanna fala sobre a possibilidade de o fato de ser mulher de ministro ter facilitado o acesso à gravadora. "Não sei se facilita. Talvez. Vivo em casa, não tenho amigos próprios e vou de arrasto aonde Paulo vai. Nesse sentido, acho que facilita. Saio de casa, canto em algum lugar, alguém me ouve e por acaso pode gostar, como foi o caso -e foi justo João."
"Não sei até que ponto ele fez porque gostou de mim ou para agradar o Paulo", continua. "Tenho impressão, pelo que conheço dele, que é mais porque gostou."
Araújo diz que o CD vendeu 2.500 cópias e nega que o projeto delimite algum tipo de favorecimento da gravadora ao governo federal, personificado pelo ministro:
"Em nenhum momento o fato de ser casada com o ministro interferiu em nossa decisão. O CD foi promovido pela Rede Globo, como são quase todos os produtos lançados pela Som Livre. Não caracteriza nenhum compromisso entre nossa empresa e o governo".
Mas Giovanna goza de alguns privilégios na gravadora, como ela descreve: "João queria que eu fizesse shows. Disse a ele que falo, dou entrevistas, mas cantar não canto. Não vou fazer nada, mas eles têm que fazer propaganda porque gastaram muito dinheiro e têm que vender um pouquinho, para não obter tanto prejuízo".
Ela confirma dentro de casa formulação recente de FHC, de que ministros no Brasil ganham salários muito baixos. "Confirmo. Acho que é de R$ 8.000 o salário dele, não é grande coisa. Mas não dá para se queixar, em vista do que ganha a maioria do povo. E os filhos estão crescidos, independentes, dá para a gente se virar."
Brincando, o ministro vai em direção similar: "Oxalá o disco dela colabore com nosso orçamento".


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