São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2005

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The Coral procura "música natural"

ALEXIA LOUNDRAS
DO "INDEPENDENT"

James Skelly, o líder do The Coral, demonstra muita disposição. Sabe o que quer e vai fazer o que for preciso para consegui-lo.
Vestindo jeans anônimos e macacões, os sete integrantes da banda, entre os quais o irmão mais novo de Skelly, Ian, na bateria, se assemelham mais a uma turma de ginasianos animados do que a uma banda de rock. Relaxados e brincalhões, são tão absurdamente normais que parecem quase incongruentes em meio aos retratos pop exagerados que enfeitam a recepção do estúdio TRL. Não usam delineador nos olhos, não usam gravatas fininhas, não usam jeans de corte estranho; sequer parecem se incomodar com seus cortes de cabelo. Em um momento em que quase todas as outras bandas entre as 40 mais das paradas de sucesso se assemelham a uma volta nostálgica aos excessos dos anos 80, sob influência da música electro, o The Coral oferece uma inspiração muito peculiar.
Em lugar de acessórios datados, a marca registrada do The Coral é o fato de que trata de um grupo quase impenetrável de amigos próximos, unidos por uma mentalidade de um por todos, todos por um. Parecem não esperar validação dos fãs nem dos críticos.
Do momento em que estouraram no cenário musical com o EP "Shadow Falls", em julho de 2001, os rapazes do The Coral foram um farol de talento e inventividade em um mar de rock derivativo. Os colegas de escola emergiram da sonolenta Hoylake, um lugarzinho costeiro esquecido, produzindo música poderosa que mistura rock cossaco, Captain Beefheart, Echo & the Bunnymen, The Doors e cabines marítimas psicodélicas. Suas canções singulares são ricas em termos de imaginação e repletas de novas idéias.
Ao ouvir um ensaio do The Coral, Alan Wills, ex-baterista do Shack, se entusiasmou tanto que decidiu fundar uma gravadora, Deltasonic, a fim de lançar os trabalhos da banda. Não demorou muito para que a Sony os procurasse, convidando a Deltasonic e a banda de Skelly a se integrarem à corporação. O disco de estréia do The Coral, que levava o nome da banda, o colocou na lista de candidatos ao Mercury Prize e lhe valeu duas indicações para o Brit Awards. Depois de conquistar os críticos, o segundo disco do grupo, "Magic & Medicine", de 2003, seduziu os corações da audiência, chegando ao topo da parada de álbuns quando foi lançado.
The Coral não vê problemas em fazer sucesso comercial, mas reconhece que isso não acontecerá a não ser que eles se disponham a trabalhar com afinco. "Eu ficaria muito mal se ninguém comprasse os nossos discos", diz James. "Quero que as pessoas sejam inspiradas por eles, mas não estou preparado para fazer o trabalho necessário para que uma banda cresça a esse ponto", afirma. "Se as turnês dos nossos discos tivessem sido mais compridas, eu teria enlouquecido. Você começa a perder a razão, usar drogas, beber, brigar com os outros, porque está de saco cheio de se ver forçado a tocar as mesmas canções."
The Coral tem aversão a tudo que é "chato". "Somos como sempre fomos. Antes, não íamos às festas. Agora não é hora de começar", diz Skelly. "Preferimos ficar em casa e fazer música."
Se incluirmos "Nightfreak & the Sons of Becker", de 2004, e "The Invisible Invasion", a produção do The Coral é de quatro discos. Em "The Invisible Invasion", o cadinho de gêneros musicais foi atenuado e destilado na forma de um grande confeito sonoro. Há sinais do som de rock retrô característico da banda mas surge também uma sutileza e maturidade delicada. "Não sentimos mais que é necessário colocar tudo que sabemos em cada faixa. Quando gravamos o primeiro disco, éramos jovens. Era natural que tivéssemos muita energia a expor. Agora queremos que nossa música seja natural", diz James.
O disco novo é mais refinado e mais acessível trabalho do The Coral, mas a banda insiste que suas ambições não estão perto de serem esgotadas. "Estamos aperfeiçoando nosso estilo, mas há ainda há muito por vir. Os Beach Boys não produziram "Pet Sounds" antes de seu quinto disco. E é isso que queremos, o nosso "Pet Sounds'", diz James.


Tradução Paulo Migliacci

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