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"CLEAN"
Em longa, Olivier Assayas foca na contemporaneidade ao construir painel sobre a reconstrução da vida de personagens
Câmera ganha vida em filme sobre pais e filhos
CLAUDIO SZYNKIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Olivier Assayas tem um trabalho calibrado na contemporaneidade. O olhar desse francês é refinado e pouco conhecido
no Brasil. Em "Clean" ele está no
terreno do showbizz. Temos
Emily, cujo marido, Lee, roqueiro, morre de overdose. Ela é viciada e se trata: quer voltar a ter o filho, Jay, criado pelos pais do marido.
"Clean" gera encanto no modo
como a câmera, flutuante, é conduzida, com profundo senso rítmico. Assayas assim nos leva a
uma espécie de passeio, nada gratuito. O que a câmera está fazendo
é procurar o passo dos personagens. Fluir segundo o movimento
de vida deles e por esse movimento se contaminar.
Assim ela se torna um dispositivo animado. Desloca-se com
consciência territorial e respiração, acompanha os corpos, se infiltra e sente os lugares em que
eles se integram. Nisso, Assayas
costura seu realismo. Um novo
realismo, diga-se: essa câmera
também se nutre da beleza estéril
e da artificialidade de um novo
projeto urbano. Digere e é digerida pelo revestimento colorido e
frio de arquitetura e lazeres noturnos modernos em Paris. Tudo para que notemos um batimento de
vida atual, vivido pelos personagens.
Para que isso tudo? Assayas,
nessa cadência, engendra um painel sobre a reconstrução da vida
dessas pessoas. Só é possível perceber esse painel se configurando,
a extensão dos sentimentos que
afloram, com esse idioma de cinema.
Do painel calcado em uma linguagem de câmera atual e em diálogo com estatutos culturais contemporâneos vão aflorar temas e
pulsões atemporais. Ambigüidade das melhores.
Tudo em "Clean" converge para
a família e as relações de casa.
Emily deixou Jay com os sogros
para viver o inebriante mundo do
rock. Há os pais de Lee, que, em
algum momento, perderam o
bonde. Não o identificam, por
exemplo, em fotos de discos.
Compensam tentando de novo,
na criação do neto.
"Clean", um filme sobre gerar,
amar e as responsabilidades que
aqui orbitam, rastreia esse fluxo
misterioso que é o crescer dos filhos, numa química de ternura e
rispidez, intensidade afetiva e estranhamento. Os sogros deixaram de conhecer Lee, Emily e Jay
mal se conhecem, mas todos têm
amor uns pelos outros.
Clean
Clean
Direção: Olivier Assayas
Produção: Canadá/França/Inglaterra, 2004
Com: Maggie Cheung, Nick Nolte
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Cineclube Vitrine, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito
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