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Estudo mapeia imagem eurocêntrica
Em livro, Robert Stam e Ella Shohat analisam presença desse discurso no cinema e na cultura de massa
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Multiculturalismo é
termo razoavelmente invocado hoje, e
não apenas nos debates intelectuais, para caracterizar abordagem mais saudável e responsável na compreensão de um
mundo de diferenças e diferentes. Entrou na cartilha do homem contemporâneo como
um mantra, mas envolve conceitos e conexões que vão muito além do senso comum.
Em "Crítica da Imagem Eurocêntrica - Multiculturalismo
e Representação", Robert Stam
e Ella Shohat cuidam desse mapeamento ao organizar, com rigor acadêmico, a reflexão em
torno das manifestações do
"discurso eurocêntrico" na cultura popular e das estratégias
usadas para questioná-lo.
"Tenho a impressão de que
venho falando disso a vida inteira", disse Stam em entrevista
à Folha, no final de maio,
quando concluía mais uma
temporada de pesquisas no
Brasil. Nascido em Nova Jersey
("a Niterói de Nova York"),
morou na África e na Europa, e
foi casado com uma brasileira,
com quem teve um filho.
Desde cedo, afirma ele, as experiências pessoais e familiares
-um dos irmãos mais velhos,
que vive na América Central, é
ligado à Teologia da Libertação- o levaram a uma rota de
contestação precoce das visões colonialista e imperialista. Sua obra,
que inclui "Literatura e Cinema", "O
Espetáculo Interrompido" e "Bakhtin", tem as marcas desse percurso... multiculturalista?
Sim, desde que
se calibre o sentido do termo. No livro, que integra
uma série "em
progresso" dedicada por Stam e Shohat ao tema, configura-se "um campo interdisciplinar
que tem adquirido
importância crescente, mas que foi
mal definido", e que os autores
gostariam de chamar de "estudos multiculturais dos meios
de comunicação".
Stam diz lamentar que, em
geral, seus livros sejam vistos
mais como obras sobre cinema
quando, argumenta ele, usam o
audiovisual, entre outros produtos culturais, para
examinar mecanismos de representação. A ligeira confusão tem razão de ser:
excelente "leitor" de
filmes, ele sempre
ensina, em primeiro
lugar, como usar ferramentas diversas
para interpretá-los.
Em "Crítica da
Imagem Eurocêntrica", o vasto repertório vai de longas sobre a "descoberta" da
América, como "Colombo: A Descoberta" e "1492: A Conquista do Paraíso",
eurocêntricos até o
último fotograma, a
representações colonialistas clássicas
("Entre Dois Amores", a trilogia Indiana Jones) e
a contestações do modelo dominante, como "A Batalha de
Argel" e "Terra em Transe".
Não espere por simplificações. O discurso eurocêntrico,
lembram os autores, é "complexo, contraditório e historicamente instável", fruto de
"tendências ou operações intelectuais que se reforçam mutuamente" e que "purificam a
história ocidental", enquanto
tratam com "condescendência,
ou mesmo com horror, o não-ocidental". Mais do que a uma
"atitude política consciente",
levaria a um "posicionamento
implícito". Na perspectiva multiculturalista de Stam e Shohat,
as conexões do fenômeno com
o colonialismo são antigas, e a
discussão deve se basear "em
uma longa história de múltiplas opressões específicas". O
livro vai fundo. E vai longe.
CRÍTICA DA IMAGEM EUROCÊNTRICA
Autor: Robert Stam e Ella Shohat
Tradução: Marcos Soares
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 69 (536 págs.)
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