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crítica
Minissérie desafia os códigos
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Não é de hoje que a
TV foi buscar na
literatura um sinal de nobreza para distinguir algumas produções
no volume de folhetins popularescos. Mas quase
sempre esse recurso funcionou como redução do
literário ao narrativo e à
sofisticação visual, no trabalho consistente de diretores de arte e figurinistas
para reconstituir épocas.
Contudo, o que Luiz
Fernando Carvalho vem
realizando, desde "Hoje É
Dia de Maria", constitui
um sinal de ruptura com
essa concepção de "qualidade". Trata-se de abordar
a literatura como manancial expressivo, e não apenas como fonte sofisticada
de histórias. A distinção
anunciada em "Hoje É
Dia" tornou-se essencial
no resultado de "A Pedra
do Reino" e consiste na
idéia de artesanato.
Naquela produção, a
forma artesanal restringia-se à execução de cenários e figurinos. Agora,
passou a servir de princípio ao próprio modo de
narrar e à estrutura do relato, com a incorporação
de colagens de cortes
abruptos, da encenação
feita de achados e do desempenho dos atores. Tudo cria um conjunto marcado por mudanças rítmicas que transmitem a vertiginosidade do texto.
Por outro lado, o artesanal cria uma alternativa à
dicotomia arte e indústria,
pois oferece um meio-termo pelo qual a TV pode almejar obter uma singularidade expressiva no próprio âmbito industrial que
já consolidou.
Não se trata, ressalte-se,
de mimetizar modos canonizados do cinema novo
para a TV, apesar de não
ser difícil identificar sinais
glauberianos. Mas de desafiar de dentro os códigos
da televisão, elevando-a a
um patamar criativo que
desafiará hábitos do espectador padrão.
A PEDRA DO REINO
Avaliação: ótimo
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