São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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crítica

Minissérie desafia os códigos

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Não é de hoje que a TV foi buscar na literatura um sinal de nobreza para distinguir algumas produções no volume de folhetins popularescos. Mas quase sempre esse recurso funcionou como redução do literário ao narrativo e à sofisticação visual, no trabalho consistente de diretores de arte e figurinistas para reconstituir épocas.
Contudo, o que Luiz Fernando Carvalho vem realizando, desde "Hoje É Dia de Maria", constitui um sinal de ruptura com essa concepção de "qualidade". Trata-se de abordar a literatura como manancial expressivo, e não apenas como fonte sofisticada de histórias. A distinção anunciada em "Hoje É Dia" tornou-se essencial no resultado de "A Pedra do Reino" e consiste na idéia de artesanato.
Naquela produção, a forma artesanal restringia-se à execução de cenários e figurinos. Agora, passou a servir de princípio ao próprio modo de narrar e à estrutura do relato, com a incorporação de colagens de cortes abruptos, da encenação feita de achados e do desempenho dos atores. Tudo cria um conjunto marcado por mudanças rítmicas que transmitem a vertiginosidade do texto.
Por outro lado, o artesanal cria uma alternativa à dicotomia arte e indústria, pois oferece um meio-termo pelo qual a TV pode almejar obter uma singularidade expressiva no próprio âmbito industrial que já consolidou.
Não se trata, ressalte-se, de mimetizar modos canonizados do cinema novo para a TV, apesar de não ser difícil identificar sinais glauberianos. Mas de desafiar de dentro os códigos da televisão, elevando-a a um patamar criativo que desafiará hábitos do espectador padrão.


A PEDRA DO REINO
Avaliação:
ótimo


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