São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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Crítica/teatro/"A Megera Domada"

Cacá Rosset cede a fórmulas garantidas na volta do Ornitorrinco

Apesar das boas atuações de Christine Tricerri e Eduardo Silva, grupo se distancia da ousadia que o caracterizou

SERGIO SÁLVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Dono do nome "Teatro do Ornitorrinco", Cacá Rosset quis ressuscitar o grupo tempos atrás com resultados deploráveis, com "O Marido Vai à Caça". Agora, com "A Megera Domada", se aproxima um pouco mais do que foi o grupo, guardadas as devidas proporções.
Não pode ser mais o Ornitorrinco de Luiz Galizia, nem de Chiquinho Brandão, já falecidos, nem mesmo de Maria Alice Vergueiro, José Rubens Chasseraux e Ari França, que não se interessaram em voltar.
Mas conta com Christine Tricerri, no papel título, vigorosa na caricatura ao mesmo tempo que sabe segurar o monólogo final, e marca a volta triunfal de Eduardo Silva, matando as saudades de seu estilo único, entre a ingenuidade e o escracho.
Rubens Caribé se diverte em cena, o que sempre é bom de se ver, enquanto Cacá Rosset, como Petrucchio, faz o papel de Cacá Rosset com a eficiência habitual. Como tradutor, é mais reverente do que anuncia, mantendo o prólogo de Shakespeare, que muitas montagens dispensam, e ousando apenas na introdução de "cacos" que soam como piadas bobas.
O elenco novo é esforçado. Competente na parte circense, que agora se limita a pequenas vinhetas, conta também com destaques do besteirol curitibano, à vontade nas caretas -e nada além disso.
Mas é a mão pesada do Rosset encenador que nivela tudo por baixo. Não dá margem a nenhuma nuance, fazendo Tricerri piscar ostensivamente para a platéia ao final de seu monólogo que parece afirmar a inferioridade das mulheres, e usando um humor físico que remete aos "Três Patetas".
Carrega a cena de efeitos sistemáticos e parece fazer um pot-pourri de tudo o que pode fazer sucesso: há citações de "Kiss Me Kate" e de clichês da Broadway, vinhetas ao estilo Cirque du Soleil, mas tudo às pressas, para não cansar um público que já não se interessa mais por teatro, ao que dizem.
Ao investir em fórmulas garantidas, Cacá Rosset parece se render ao traiçoeiro pensamento dominante de considerar o público apenas enquanto consumidor de entretenimento só apto a consumir o que já conhece. Age mais como empresário do que criador, usando o nome de um grupo que se destacava pela ousadia, e não pelo oportunismo. A esse preço, o sucesso pode ter mérito, mas não tem sentido.


A MEGERA DOMADA
Quando:
sex, 21h30; sáb, 21h; dom, 19h. Até 31/8
Onde: Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153; tel. 0/ xx/11/ 3288-0136; classificação: livre)
Quanto: R$ 20
Avaliação: regular


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