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Crítica/teatro/"A Megera Domada"
Cacá Rosset cede a fórmulas garantidas na volta do Ornitorrinco
Apesar das boas atuações de Christine Tricerri e Eduardo Silva, grupo se distancia da ousadia que o caracterizou
SERGIO SÁLVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Dono do nome "Teatro
do Ornitorrinco", Cacá
Rosset quis ressuscitar
o grupo tempos atrás com resultados deploráveis, com "O
Marido Vai à Caça". Agora, com
"A Megera Domada", se aproxima um pouco mais do que foi o
grupo, guardadas as devidas
proporções.
Não pode ser mais o Ornitorrinco de Luiz Galizia, nem de
Chiquinho Brandão, já falecidos, nem mesmo de Maria Alice Vergueiro, José Rubens
Chasseraux e Ari França, que
não se interessaram em voltar.
Mas conta com Christine Tricerri, no papel título, vigorosa
na caricatura ao mesmo tempo
que sabe segurar o monólogo final, e marca a volta triunfal de
Eduardo Silva, matando as saudades de seu estilo único, entre
a ingenuidade e o escracho.
Rubens Caribé se diverte em
cena, o que sempre é bom de se
ver, enquanto Cacá Rosset, como Petrucchio, faz o papel de
Cacá Rosset com a eficiência
habitual. Como tradutor, é
mais reverente do que anuncia,
mantendo o prólogo de Shakespeare, que muitas montagens
dispensam, e ousando apenas
na introdução de "cacos" que
soam como piadas bobas.
O elenco novo é esforçado.
Competente na parte circense,
que agora se limita a pequenas
vinhetas, conta também com
destaques do besteirol curitibano, à vontade nas caretas -e
nada além disso.
Mas é a mão pesada do Rosset encenador que nivela tudo
por baixo. Não dá margem a nenhuma nuance, fazendo Tricerri piscar ostensivamente para a platéia ao final de seu monólogo que parece afirmar a inferioridade das mulheres, e
usando um humor físico que
remete aos "Três Patetas".
Carrega a cena de efeitos sistemáticos e parece fazer um
pot-pourri de tudo o que pode
fazer sucesso: há citações de
"Kiss Me Kate" e de clichês da
Broadway, vinhetas ao estilo
Cirque du Soleil, mas tudo às
pressas, para não cansar um
público que já não se interessa
mais por teatro, ao que dizem.
Ao investir em fórmulas garantidas, Cacá Rosset parece se
render ao traiçoeiro pensamento dominante de considerar o público apenas enquanto
consumidor de entretenimento só apto a consumir o que já
conhece. Age mais como empresário do que criador, usando
o nome de um grupo que se destacava pela ousadia, e não pelo
oportunismo. A esse preço, o
sucesso pode ter mérito, mas
não tem sentido.
A MEGERA DOMADA
Quando: sex, 21h30; sáb, 21h; dom,
19h. Até 31/8
Onde: Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153; tel. 0/ xx/11/ 3288-0136;
classificação: livre)
Quanto: R$ 20
Avaliação: regular
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