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CRÍTICA DRAMA
Montagens convergem para eugenia
Paulo Moraes transforma reconstituição de fatos históricos em diálogos e dificulta encenação
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O teatro como arqueologia
da cidade. A "Trilogia Degenerada", da Cia. do Faroeste,
escava no bairro Campos Elíseos, em São Paulo, para propor narrativas que convergem no tema da eugenia.
Se os achados de uma memória urbana perdida impactam, as encenações partilham dificuldades comuns.
As três montagens, mostradas agora conjuntamente,
foram criadas e encenadas
em momentos distintos de
uma pesquisa de oito anos.
Seu autor e encenador é Paulo Moraes, líder do grupo e
dramaturgo que vem construindo um estilo.
A primeira delas, de 2006,
é "Os Crimes do Preto Amaral", que parte de famoso caso policial dos anos 1920 envolvendo José Augusto Amaral. Ele foi acusado de cometer uma série de assassinatos
e provou-se, depois, ter sido
condenado por ser negro.
A dramaturgia de Moraes
mistura elementos realistas e
personagens míticos, como
Orfeu e Eurídice. A combinação torna a trama menos verossímil, mas é a opção de reconstituir fatos históricos
através de diálogos que dificulta a encenação.
LOUCOS
A mesma carência reaparece em "Labirinto Reencarnado", de 2008, que se passa
nos anos 1940. Dessa vez a
ficção é situada em casarão
do bairro que chegou a ser
um asilo de loucos.
Aqui o tema da pureza racial é projetado no pano de
fundo da Segunda Guerra
Mundial e a mescla com figuras mitológicas se repete.
Os protagonistas são Dédalo e seu filho Ícaro, respectivamente um judeu cristianizado, que se arrepende de
suas crenças eugênicas, e o
filho, fascinado por Hitler e
pelo ideal ariano. Mais uma
vez, a ação decorre só nas falas, que não se realizam enquanto cena.
O terceiro texto, "Re-bentos" (2002), é o mais naturalista dos três. Retrata um dia
num cortiço da região onde
se concentra, hoje, a distribuição de crack na cidade.
A complexidade da situação dramática desenhada,
em que se confundem viciados e desvalidos, policiais e
traficantes, suplanta os recursos para se encená-la.
As partes desta trilogia
compartilham tanto o mesmo tema como a dificuldade
de materializá-lo dramaticamente. Reconhece-se a seriedade da pesquisa do grupo,
com uma maioria de atores
competentes, mas, também,
essa limitação concreta nos
textos cênicos apresentados.
TRILOGIA DEGENERADA
QUANDO sáb. e dom., às 17h
ONDE Sede da cia. (al. Cleveland, 677, tel. 0/ xx/11/3362-8883)
QUANTO contribuição voluntária
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular
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