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PERSONALIDADE
Criador da editora Duas Cidades morreu na última 6ª
Missa celebra Frei Santa Cruz,
"formador de intelectuais"
da Redação
Será celebrada hoje, às 19h, na
igreja São Domingos (r. Caiubi,
164, Perdizes, São Paulo), a missa
de sétimo dia de José Petronillo de
Santa Cruz, conhecido como Frei
Benevenuto de Santa Cruz
-ex-frei, ganhou este nome na
ordem dominicana.
Casado com Maria Antonia Pavan de Santa Cruz, Frei Santa Cruz
morreu no último dia 4, em São
Paulo, aos 79 anos.
Nascido em um engenho em São
Luís do Quitunde (60 km de Maceió), em Alagoas, em 1918, Santa
Cruz se destacou no cenário cultural como fundador da livraria e
editora Duas Cidades, ainda em
atividade em São Paulo.
De acordo com Augusto Massi,
professor de literatura brasileira
da Universidade de São Paulo e colaborador da Folha, "muito mais
que um livreiro, Santa Cruz abasteceu e formou três gerações de intelectuais em São Paulo".
Massi, que coordena atualmente
a série "Mundo Enigma" da editora, em parceria com o professor
Davi Arrigucci Jr., cita como "pupilos" de Santa Cruz e da Duas Cidades nomes que vão do empresário e bibliófilo José Mindlin ao escritor Fernando Moraes.
Cita ainda o embaixador Celso
Lafer e a filósofa Marilena Chaui
-todos clientes da livraria Duas
Cidades, na r. Bento Freitas, no
centro de São Paulo.
Clássicos
Santa Cruz editou títulos hoje
considerados clássicos do humanismo brasileiro, como "Os Parceiros do Rio Bonito" (1964), do
crítico literário Antonio Candido
-de quem a editora também lançou "Vários Escritos" e "Discurso e a Cidade"-, e "Ao Vencedor
as Batatas" (1977), do também
crítico Roberto Schwarz.
Boris Schnaiderman, de quem a
Duas Cidades editou "Turbilhão e
Semente - Ensaios sobre Dostoiévski e Bakhtin", em 1983, diz
que Santa Cruz era conhecido como um editor que não tinha uma
preocupação comercial.
Segundo o crítico literário e professor aposentado da USP, em um
encontro com Santa Cruz, "em
um período em que a Duas Cidades ia muito bem", este lhe disse:
"Tenho medo de me tornar um
editor de sucesso".
Teria sido por isso que Santa
Cruz investiu nos poetas concretistas, "em uma época em que
ninguém queria editá-los".
Santa Cruz, que estudou em um
colégio marista -foi colega do
poeta João Cabral de Melo Neto-,
cursou direito em Recife e filosofia
e teologia na França, também se
destacou pela atuação política.
Para Jacó Guinsburg, professor
da USP e fundador da editora Perspectiva, "Frei Santa Cruz promoveu obras e valores culturais importantes. Foi corajoso politicamente durante a repressão".
Guinsburg conta que, durante o
regime militar, Santa Cruz acolheu
perseguidos políticos e editou
obras de intelectuais exilados.
Outra faceta importante de Santa
Cruz foi a participação em grandes
projetos urbanísticos. Ele esteve
na equipe que elaborou o anteprojeto do plano diretor da cidade de
Belo Horizonte (MG).
(CEM)
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