São Paulo, quinta, 10 de julho de 1997.



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PERSONALIDADE
Criador da editora Duas Cidades morreu na última 6ª
Missa celebra Frei Santa Cruz, "formador de intelectuais"

da Redação

Será celebrada hoje, às 19h, na igreja São Domingos (r. Caiubi, 164, Perdizes, São Paulo), a missa de sétimo dia de José Petronillo de Santa Cruz, conhecido como Frei Benevenuto de Santa Cruz -ex-frei, ganhou este nome na ordem dominicana.
Casado com Maria Antonia Pavan de Santa Cruz, Frei Santa Cruz morreu no último dia 4, em São Paulo, aos 79 anos.
Nascido em um engenho em São Luís do Quitunde (60 km de Maceió), em Alagoas, em 1918, Santa Cruz se destacou no cenário cultural como fundador da livraria e editora Duas Cidades, ainda em atividade em São Paulo.
De acordo com Augusto Massi, professor de literatura brasileira da Universidade de São Paulo e colaborador da Folha, "muito mais que um livreiro, Santa Cruz abasteceu e formou três gerações de intelectuais em São Paulo".
Massi, que coordena atualmente a série "Mundo Enigma" da editora, em parceria com o professor Davi Arrigucci Jr., cita como "pupilos" de Santa Cruz e da Duas Cidades nomes que vão do empresário e bibliófilo José Mindlin ao escritor Fernando Moraes.
Cita ainda o embaixador Celso Lafer e a filósofa Marilena Chaui -todos clientes da livraria Duas Cidades, na r. Bento Freitas, no centro de São Paulo.
Clássicos
Santa Cruz editou títulos hoje considerados clássicos do humanismo brasileiro, como "Os Parceiros do Rio Bonito" (1964), do crítico literário Antonio Candido -de quem a editora também lançou "Vários Escritos" e "Discurso e a Cidade"-, e "Ao Vencedor as Batatas" (1977), do também crítico Roberto Schwarz.
Boris Schnaiderman, de quem a Duas Cidades editou "Turbilhão e Semente - Ensaios sobre Dostoiévski e Bakhtin", em 1983, diz que Santa Cruz era conhecido como um editor que não tinha uma preocupação comercial.
Segundo o crítico literário e professor aposentado da USP, em um encontro com Santa Cruz, "em um período em que a Duas Cidades ia muito bem", este lhe disse: "Tenho medo de me tornar um editor de sucesso".
Teria sido por isso que Santa Cruz investiu nos poetas concretistas, "em uma época em que ninguém queria editá-los".
Santa Cruz, que estudou em um colégio marista -foi colega do poeta João Cabral de Melo Neto-, cursou direito em Recife e filosofia e teologia na França, também se destacou pela atuação política.
Para Jacó Guinsburg, professor da USP e fundador da editora Perspectiva, "Frei Santa Cruz promoveu obras e valores culturais importantes. Foi corajoso politicamente durante a repressão".
Guinsburg conta que, durante o regime militar, Santa Cruz acolheu perseguidos políticos e editou obras de intelectuais exilados.
Outra faceta importante de Santa Cruz foi a participação em grandes projetos urbanísticos. Ele esteve na equipe que elaborou o anteprojeto do plano diretor da cidade de Belo Horizonte (MG). (CEM)



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