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MÚSICA
Cantor carioca, ex-vocalista do Hojerizah, lança segundo disco solo, produzido pelo ex-Legião Dado Villa-Lobos
Toni Platão oferece sua voz em novo disco
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Com "Calígula Freejack", o cantor carioca Toni Platão, 37, egresso da banda roqueira dos 80 Hojerizah, tenta mais uma vez engrenar carreira solo. Sua trajetória vinha sendo a típica de líder de banda que se vê perdido com o final
do grupo e da primeira juventude.
Ele lembra os primeiros tempos: "Fazia guitarra base no Hojerizah, e, quando o vocalista saiu,
olharam para mim, dizendo que o
guitarrista era quem devia cantar.
Jamais achei possível ser cantor,
mas, quando me vi no estúdio,
soltei um vozeirão que não sabia
que tinha. Então, fui estudar bel
canto no Teatro Municipal".
Acabou sendo conhecido como
bom cantor, dentro da tradição
não muito rigorosa dos vocalistas
masculinos da geração 80.
Após a separação (dolorosa, segundo ele) do Hojerizah, em 89,
por "diferenças musicais e estresses de relacionamento", acabou
sendo contratado pela Sony, onde
iria tentar desenvolver a paixão
por ícones do rhythm'n'blues e do
soul negro ou branco, como Wilson Pickett e Van Morrison.
O primeiro solo saiu em 94, e
não foi feliz. No relato, ele admite
-é raro- a ingerência da indústria sobre um artista dito novato:
"O triângulo gravadora, produtor
e artista não funcionou. Lulu Santos produziria, mas a Sony não
achou adequado. Escolheram Fábio Fonseca, com quem não me
entendi. O repertório foi mudando por interesses da gravadora, só
pude escolher três das faixas".
Dos três vértices, artista e produtor tiveram mais a perder que a
gravadora. "É claro que quem pagou o pato fomos eu e ele. Fiquei
sem chão quando rompi o contrato, me recolhi, me "emburaquei"."
A "implicância mútua" com o
produtor, parece, é coisa do passado. Fonseca toca piano e sintetizador em "Calígula Freejack",
unindo-se a uma equipe que conta com o ex-Legião Urbana Dado
Villa-Lobos (produtor do CD),
João Barone (dos Paralamas) e
Davi Moraes (filho de Moraes
Moreira), entre outros.
O segundo disco sai pela pequena gravadora de Dado Villa-Lobos, Rockit!, e marca o que Platão
define como sua chegada ao estilo
que desejava para si. "Não me via
em 60% do disco anterior. Neste,
me vejo em 150%, 200%."
Tal estilo resulta de vários momentos -recombina as preferências roqueiras do Hojerizah, a
influência soul do início dos 90 e
um desejo de fazer o que ele chama de "pagode do punk".
Nesse pique, chegou, num show
coletivo, a apresentar releituras de
"Carne e Osso" (da banda conterrânea e contemporânea Picassos
Falsos, pioneira na injeção de pequenas doses de samba no rock
pós-80) e "Canto de Ossanha"
(afro-samba de Baden Powell e
Vinicius de Moraes), "analisadas
sob uma ótica meio punk".
Ambas estão em "Calígula Freejack", que ele não considera, entretanto, um disco de "pagode do
punk". "O disco tem isso, mas
tem o sotaque soul, o samba, a
coisa mais pesada, o mangue beat.
É uma honra poder colocar Fred
Zero Quatro no meu disco. Ele é o
Raul Seixas do ano 2000."
Fala de sua responsabilidade como cantor num país de muitas
cantoras: "A primeira vez que ouvi falar em diafragma foi com Renato Russo. Na nossa geração, havia cantores em potencial, mas
que não estudaram. Hoje, Gabriel
o Pensador vence prêmios de melhor cantor, tenho crises de riso.
Ele é fantástico, mas é outra coisa.
Não é cantor". Conclui: "Também não estou defendendo que,
para ser bom, é preciso cantar
bem -adoro o Planet Hemp.
Nem quero suprir a falta de cantores. Eu quero contribuir".
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