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2ª FLIP
Escritores e críticos falam à Folha sobre o atual panorama da literatura no país
O Brasil no picadeiro
João Wainer/Folha Imagem
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O autor paulistano Ferréz |
CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI
Paul Auster, Martin Amis, Ian
McEwan e Margaret Atwood. OK.
Mas e nós? Aproveitando o dia
mais brasileiro da Festa Literária
Internacional de Parati, que terá
de manhã Ferréz, pela tarde o trio
Lygia Fagundes Telles, Moacyr
Scliar e Luis Fernando Verissimo
e Chico Buarque na entrada da
noite, a Folha ouviu escritores,
críticos, agentes literários para bater uma chapa da ficção que fica
aqui depois que o circo da Flip for
desmontado. Qual a situação da
literatura brasileira hoje?
O caçula do festival, Daniel Galera, 25, dá o mote da toada. "É
impossível definir como é a ficção
feita hoje no país. É tudo muito
variado, cada um seguindo sua
viagem." Escritor e dono da microeditora Livros do Mal, ele é inimigo ferrenho de "geração 90",
"geração 00" e outras estampas
que pregam nas costas dos autores que se consolidam agora.
A ânsia de classificar o que está
sendo feito agora, opina Augusto
Massi, é sinal da falta de "espírito
crítico". Ator, diretor e contra-regra, ou seja, editor, ensaísta, professor e poeta, ele acredita que o
problema não está na produção
literária nacional nem naqueles
que a imprimem. "Quando ninguém consegue se localizar montam-se logo antologias. São coletâneas feitas por gerações, gêneros ou "os cem melhores". Mas essas listas são pouco confiáveis."
Massi acredita que faltam críticos
novos, que possam organizar um
mercado que dá espaço "para todo mundo: do cara dos poemas
pornôs ao best-seller".
Raimundo Carrero, 14 romances nas costas, discorda. "Faltam é
leitores." E a oferta nacional das
novíssimas gerações ("nova geração sou eu também, não morri"),
segundo ele, é das mais generosas
possíveis. "Vivemos a perplexidade de um novo milênio. A literatura brasileira vive o que Alejo
Carpentier chamou de terceiro estilo, que é a falta de um estilo",
aponta o autor pernambucano.
Os "novíssimos" apontam a internet como multiplicadora desses modos tão variados de prosear. "A palavra é jogo. Nós jogamos os textos na internet e estamos jogando literariamente para
encontrar nossos caminhos, nossos estilos", opina Emílio Fraia,
22, paulistano.
Essa "busca de caminhos" o
trouxe às Veredas da Literatura.
Esse é o nome de um projeto literário da Flip que reuniu de quinta
a hoje uma trupe de 50 autores
inéditos ou nos primeiros passos
para uma oficina com o romancista e professor Milton Hatoum.
Vindos de diversas cidades, e
agrupados "woodstockianamente" em uma pousada, eles terão
um mês a contar de hoje para
apresentarem projetos de livros.
Dois deles serão brindados pela
Vivo, patrocinadora do projeto,
com R$ 12 mil (oito de R$ 1.500)
para concluírem os escritos.
Os "novíssimos" farão "vanguardismos"? Não necessariamente. Antonia Pellegrino, 24, carioca, fala sem meias palavras.
"Caguei para a vanguarda. Escrever uma boa história já é ótimo. Se
quer fazer vanguarda, tem que ser
gênio. Ficar no meio do caminho
não dá", diz a neta do poeta e psicanalista Helio Pellegrino.
Um dos principais contistas
brasileiros, Sérgio Sant'Anna, safra 1941, não pensa assim. "A palavra "vanguarda" envelheceu,
mas o desejo de inovar não.
Quem prega que o que importa é
só o enredo, e não a linguagem,
são setores conservadores, um
pouco reacionários", diz o escritor, que pôs o tema na roda ontem
em encontro com Luiz Vilela.
Carrero, Marcelino Freire, Ivana Arruda Leite e Daniel Galera,
reunidos em frente à Igreja da
Matriz, rezam nessa cartilha. Em
conversa com a Folha, dizem eles
que a ficção brasileira tem muita
gente experimentado bem a linguagem, sim. Mas não acreditam
que esse (ou qualquer outro traço) possa ser amarrado nas novas
escrituras brasileiras.
"Tentar definir o que está acontecendo é como abrir o liqüidificador enquanto a vitamina está
sendo feita. Voa abacate para todo lado", diz o poeta, prosador e
editor Joca Reiners Terron. Sem
receio dos "abacates", Augusto
Sales, editor da revista literária
"Paralelos" e um dos organizadores da Veredas da Literatura, arrisca um retrato de corpo inteiro.
"Os autores cariocas trabalham
mais a partir da memória afetiva.
São pequenas obsessões, crises
existenciais e o incômodo com a
superficialidade do mundo contemporâneo. Já São Paulo é mais
"faca no bucho", fala mais da violência urbana. Tem influência de
Rubem Fonseca e do cinema. No
Sul, vejo mais elementos fantásticos. Mas, em comum, têm a concisão, o apreço pelos minicontos,
o que é influência da internet."
Contam-se em dedos minguados os jovens autores que não trabalham com a "rede", a julgar pela amostragem da oficina Veredas. Uma delas vem do interior
paulista. Fabíola Moura, 31, é o
nome da "avis rara". "Sou uma
exceção aqui, porque não tenho
blog. Sou autora do século passado. O que acho ótimo nos novos
autores é a desmistificação da escrita. A busca de comunicação direta pela net possibilita isso."
Outra "desmistificação" é a de
que não é possível exportar nossa
literatura. Lucia Riff, principal
agente literária brasileira, diz que
não passa nenhum mês sem negociar autores brasileiros com o
exterior. "Tenho recebido pedidos de países que nunca publicaram nossa literatura. Anos atrás o
desconhecimento da literatura
brasileira chegava a ser constrangedor. Agora estamos na moda."
Mas ainda falta. Com a palavra o
enviado do jornal espanhol "El
País", José Andrés Rojo: "O leque
da literatura brasileira é imenso,
com obras de variedade surpreendente. É literatura ainda
praticamente desconhecida, que
precisa ser posta em órbita".
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