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Verissimo vai do humor aos clássicos
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
No ano passado, a passagem de
Luis Fernando Verissimo por Parati foi fugaz: problemas de saúde
de sua mãe o levaram de volta a
Porto Alegre antes que ele cumprisse seu papel na 1ª Flip. "Neste
ano me deram trabalho dobrado", brinca ele, que, desafiando
seu apreço pelo silêncio, passará
três horas seguidas participando
de conferências na Tenda dos Autores.
Às 15h de hoje, ele se sentará ao
lado dos amigos Lygia Fagundes
Telles e Moacyr Scliar na mesa
"Os Clássicos dos Clássicos". Às
16h45, Verissimo falará de "Humor: Do Traço à Palavra" com
Angeli e Ziraldo.
"Além da companhia do Angeli
e do Ziraldo, estar também na da
Lygia e na do Moacyr é uma mudança de turma radical. Vou ter
que pensar no meu guarda-roupa", diz Verissimo, 67, por e-mail,
como prefere dar entrevistas.
Coerentemente com a sua discrição, o filho de Erico Verissimo
não se considera um clássico
-"embora já tenha idade para
ser", ironiza. A Flip o escalou no
time depois que João Ubaldo Ribeiro desistiu da vaga. O escritor
baiano alegou que estava sendo
tratado pela organização como
um "etc", ou seja, sem um destaque maior.
"Eu gosto muito do João Ubaldo e respeito qualquer decisão dele. Ele nunca seria um "etc". Mas a
frase dele é boa", diz Verissimo,
que pretende ler, na mesa, texto
de algum "clássico da crônica",
como Rubem Braga, Paulo Mendes Campos ou Antônio Maria.
A participação na Flip coincide
com o lançamento de "O Melhor
das Comédias da Vida Privada",
novo título da série best-seller
"Ver!ssimo", na qual a editora
Objetiva está reorganizando a
obra do autor. O livro reúne 87
crônicas, entre elas algumas bem
conhecidas, como "As Noivas do
Grajaú", "As Time Goes by", "Lixo" e "Gaúchos e Cariocas".
Déjà vu
Para Verissimo, ao reler suas
antigas crônicas, um sentimento
desagradável de déjà vu às vezes é
inevitável.
"O que sempre me surpreende é
o tamanho. Como a gente escrevia mais, antigamente! Não sei se
ficamos mais sucintos ou mais
preguiçosos. Às vezes se tem boas
surpresas, mas muitas vezes funciona "o alter-crítico", como ouvi
descreverem uma vez. E a gente
pensa: "Como é que eu pude escrever essa bobagem?". Aí o sentimento é, sim, de déjà vu, e déjà vu
tarde", afirma ele.
Foi Jorge Furtado quem criou a
expressão "comédias da vida privada" quando começava, em
1994, a adaptar para a TV crônicas
de Verissimo.
O nome pegou, a série da Rede
Globo pegou e o autor voltou a ser
best-seller, como já tinha sido nos
anos 80 com "O Analista de Bagé". Mas, desde que reduziu sua
participação na imprensa a duas
colunas por semana, ele tem escrito mais sobre a vida pública do
que a privada.
"Quando você escreve todos os
dias, tem uma espécie de licença
tácita para alternar bobagens com
coisas mais sérias. Quando passa
a ter menos espaço, escolhe mais
o assunto, e ultimamente tem sido difícil não escrever sobre o estado do mundo", explica.
Bem ao seu estilo, ele une humor e desencanto ao falar do Brasil atual, que não considera nada
diferente do Brasil de Éfe Agá, como chama o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Vou
dar só mais seis anos para o Lula
se dar conta de que não foi eleito
para isso", ameaça.
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