VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Maria e Bucola são como suas amigas: têm em média 15 anos, vêm de orfanatos ou de famílias-fantasmas, fazem da rua sua casa e saltam pela "janela da noite" atrás de drogas, sexo e música. No meio do caminho, brigas, mortes, cadeia. E, no caso das duas, um belo exemplo do que é feita a amizade -enquanto dura.
Maria e Bucola são as porta-vozes de "Garotas da Quadra", a peça da inglesa Rebecca Prichard, 33, que ganha primeira montagem no país com direção e adaptação de Mário Bortolotto.
A temporada começa hoje no teatro Cultura Inglesa Pinheiros, após sete apresentações em Santos, dentro da programação do 8º Cultural Inglesa Festival, que contemplou o espetáculo.
"Yard Gal", título original, estreou em 1998, resultado da parceria de Prichard com a Clean Break Theater, companhia criada em 1971 por duas ex-presidiárias de Essex, na Inglaterra. O projeto foi realizado a convite do Royal Court Theatre, instituição londrina de fomento à dramaturgia.
As intérpretes de "Garotas da Quadra", Aline Abovsky (Maria) e Ester Laccava (Bucola), também foram a campo e conheceram o Presídio Feminino de Franco da Rocha, em São Paulo, onde o espetáculo será apresentado na próxima semana.
A expressão "garotas da quadra" se refere a jovens moradoras que freqüentam quadras de lazer de conjuntos habitacionais nas médias ou grandes cidades do Reino Unido.
Maria, Bucola, Tereza, Sabrina, Denise e Diana pertencem à gangue do bairro e entram em conflito com a gangue rival, de Wendy. Invariavelmente, elas se trombam numa boate, onde a maioria vai "para soltar a franga, se assumir, desencanar e descolar um fumo", como descreve Bucola.
Em cena, ela e Maria ocupam duas cadeiras. Ao fundo, um telão traz imagens dos personagens citados nas histórias que contam para a platéia. Maria e Bucola narram a partir do presente, quando a primeira teve uma filha e procura emprego, e a segunda cumpre pena por assassinato e está a meses da liberdade.
São passagens plenas em errâncias juvenis, mas também carregadas de tragicidade e violência.