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FILMES DE HOJE
TV PAGA
"As Deusas" revela um bom momento de Khouri
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
No número mais recente da
revista "Cult", o fino crítico
que é João Carlos Rodrigues aproxima Walter Hugo Khouri de Antonioni. Rodrigues chama a atenção para a necessidade de reavaliar a obra de Khouri, hoje que as
disputas políticas que o isolaram
do cinema novo e o colocaram à
margem da história do cinema
brasileiro estão extintas.
A idéia é a reter, hoje que a TVE
Brasil exibe "As Deusas", de 1972
(às 23h30) -um dos filmes mais
significativos da última fase do diretor paulista. No entanto, é preciso não tirar do horizonte algumas
questões conexas: em vida, Khouri renegava essa aproximação
com Antonioni, não porque não
existisse, mas porque a comparação tendia inevitavelmente a classificá-lo como um imitador.
Voltemos à história: que estranha capacidade alimentamos no
Brasil de excluir dela bons cineastas e trazer para ela inúmeras mediocridades. Pode-se argumentar
que "bom" e "medíocre" são categorias subjetivas. Em parte, apenas. Aproxime-se de um Khouri e
será fácil ver que seus filmes
saíam exatamente o que ele queria que saíssem.
Enfim, fazia o que poucos fazem
como poucos fazem. Seus filmes
são oscilantes. Brilham, quase
sempre, nos anos 60. Depois dos
70, repetem-se, quase sempre.
Khouri teria lucrado mais se tivesse saído de si mesmo e aceito encomendas de vez em quando.
Parece-me que seu trabalho tem
não poucas semelhanças com o
de Claude Chabrol, que é, no entanto, um crítico social implacável. Como Khouri, seu artesanato
é impecável. E num filme como
"As Corças" (Eurochannel, 2h),
ele se mostra capaz de observar o
universo feminino com tanta paixão quanto Khouri. Sua vantagem: é um realista e sabe disso. Já
Khouri foi um realista "malgré
lui", em cujos filmes a ambição
metafísica foi, não raro, uma solene tranqueira.
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