São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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3ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATI

Para o chef e escritor norte-americano, pratos como a feijoada estão entre os melhores do mundo; ele participa hoje de evento na Flip

Bourdain elogia culinária de "tempos difíceis"

EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATI

Anthony Bourdain é um fã da culinária brasileira. Chef norte-americano especializado em assados franceses, diz que os melhores pratos surgiram em circunstâncias ou tempos de crise, como a feijoada, feita com, segundo reza a lenda, as sobras da casa grande que iam para a senzala.
Autor de "Cozinha Confidencial" (Cia. das Letras), um bem-humorado relato sobre os bastidores do mundo da gastronomia, Bourdain fala hoje, às 15h, sobre "O Sabor das Letras", na Festa Literária Internacional de Parati.
O escritor jantou na última quinta-feira à noite, a convite da Folha, num restaurante de comida típica de Parati. Para escolher seu prato, seguiu sua própria dica: "Sempre peça a especialidade da casa".
Bourdain pediu bolinhos de bacalhau, que apimentou e comeu com as mãos. Depois, uma caldeirada de frutos do mar com pirão. Papou dois pratos. "Está delicioso. É exatamente o tipo de comida de que gosto", disse o escritor. Terminada a refeição, foi visitar a cozinha. Agradeceu ao colega, o cozinheiro Nilson Lara dos Santos, e disse que nunca repara em detalhes como se a cozinha é limpa ou não.
"Os melhores pratos que já comi foram feitos nos lugares mais sujos", disse Bourdain, um fã do que chama de "cozinha de rua" do Brasil, como sanduíches de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo ou os pastéis de carne feitos na hora, do Rio.
Além da culinária nascida em tempos de crise, Bourdain aprecia a gastronomia de países já invadidos ou colonizados, onde, segundo ele, a influência de várias cozinhas resultou em combinações perfeitas, como em Cingapura ou na Sicília, na Itália, ou, ainda, Nova York, uma exceção nos Estados Unidos.
"Na maioria dos países de língua inglesa há uma espécie de efeito da igreja protestante na cozinha. O prazer na comida pode levar a ter problemas de caráter, como querer fazer sexo", ironiza o escritor.

TV e literatura
Parati é uma novidade na cheia agenda de viagens do chef-escritor. E apresentador de TV. Há quatro anos Bourdain apresenta um programa para o Discovery Channel, por conta do qual viaja o mundo para mostrar diferentes culinárias. Já fez dois programas sobre o Brasil: um em São Paulo e outro no Rio -considera dois de seus melhores. Na semana que vem vai ao Uzbequistão para gravar um novo programa.
"Passo cerca de oito meses por ano viajando", disse Bourdain, que em 2006 inicia uma temporada de um ano e meio no Vietnã, que renderá um livro sobre suas experiências no país, seu atual xodó culinário.
Bourdain diz que toparia, algum dia, repetir a aventura vietnamita no Brasil. Já sobre cozinhar pratos típicos brasileiros é taxativo: "Não seria arrogante ao ponto de tentar fazer melhor ou sequer tão bom. Um filé até um macaco poderia fazer. Mas uma feijoada..."
Além dos livros sobre culinária, Bourdain também é autor de romances policiais, como "Bobby Gold Leão-de-Chácara" (Companhia das Letras), que está lançando na Flip, no qual se debruça sobre outro ambiente que conhece bem: o dos clubes noturnos de Nova York.
Seu maior sucesso, "Cozinha Confidencial", que já foi traduzido para 24 línguas, inclusive o português, vai virar série televisiva. Darren Star, mesmo produtor de "Sex and the City", estréia em setembro um programa piloto na TV americana.
"O piloto não mostra a minha vida, mas é inspirado nela, em dias típicos de trabalho, com 150 pedidos de almoço, 200 de jantar e alguns desastres. É muito engraçado", diz.

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