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3ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATI
Para o chef e escritor norte-americano, pratos como a feijoada estão entre os melhores do mundo; ele participa hoje de evento na Flip
Bourdain elogia culinária de "tempos difíceis"
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATI
Anthony Bourdain é um fã da
culinária brasileira. Chef norte-americano especializado em assados franceses, diz que os melhores
pratos surgiram em circunstâncias ou tempos de crise, como a
feijoada, feita com, segundo reza a
lenda, as sobras da casa grande
que iam para a senzala.
Autor de "Cozinha Confidencial" (Cia. das Letras), um bem-humorado relato sobre os bastidores do mundo da gastronomia,
Bourdain fala hoje, às 15h, sobre
"O Sabor das Letras", na Festa Literária Internacional de Parati.
O escritor jantou na última
quinta-feira à noite, a convite da
Folha, num restaurante de comida típica de Parati. Para escolher
seu prato, seguiu sua própria dica:
"Sempre peça a especialidade da
casa".
Bourdain pediu bolinhos de bacalhau, que apimentou e comeu
com as mãos. Depois, uma caldeirada de frutos do mar com pirão.
Papou dois pratos. "Está delicioso. É exatamente o tipo de comida
de que gosto", disse o escritor.
Terminada a refeição, foi visitar a
cozinha. Agradeceu ao colega, o
cozinheiro Nilson Lara dos Santos, e disse que nunca repara em
detalhes como se a cozinha é limpa ou não.
"Os melhores pratos que já comi foram feitos nos lugares mais
sujos", disse Bourdain, um fã do
que chama de "cozinha de rua"
do Brasil, como sanduíches de
mortadela do Mercado Municipal
de São Paulo ou os pastéis de carne feitos na hora, do Rio.
Além da culinária nascida em
tempos de crise, Bourdain aprecia
a gastronomia de países já invadidos ou colonizados, onde, segundo ele, a influência de várias cozinhas resultou em combinações
perfeitas, como em Cingapura ou
na Sicília, na Itália, ou, ainda, Nova York, uma exceção nos Estados Unidos.
"Na maioria dos países de língua inglesa há uma espécie de
efeito da igreja protestante na cozinha. O prazer na comida pode
levar a ter problemas de caráter,
como querer fazer sexo", ironiza
o escritor.
TV e literatura
Parati é uma novidade na cheia
agenda de viagens do chef-escritor. E apresentador de TV. Há
quatro anos Bourdain apresenta
um programa para o Discovery
Channel, por conta do qual viaja o
mundo para mostrar diferentes
culinárias. Já fez dois programas
sobre o Brasil: um em São Paulo e
outro no Rio -considera dois de
seus melhores. Na semana que
vem vai ao Uzbequistão para gravar um novo programa.
"Passo cerca de oito meses por
ano viajando", disse Bourdain,
que em 2006 inicia uma temporada de um ano e meio no Vietnã,
que renderá um livro sobre suas
experiências no país, seu atual xodó culinário.
Bourdain diz que toparia, algum dia, repetir a aventura vietnamita no Brasil. Já sobre cozinhar pratos típicos brasileiros é
taxativo: "Não seria arrogante ao
ponto de tentar fazer melhor ou
sequer tão bom. Um filé até um
macaco poderia fazer. Mas uma
feijoada..."
Além dos livros sobre culinária,
Bourdain também é autor de romances policiais, como "Bobby
Gold Leão-de-Chácara" (Companhia das Letras), que está lançando na Flip, no qual se debruça sobre outro ambiente que conhece
bem: o dos clubes noturnos de
Nova York.
Seu maior sucesso, "Cozinha
Confidencial", que já foi traduzido para 24 línguas, inclusive o
português, vai virar série televisiva. Darren Star, mesmo produtor
de "Sex and the City", estréia em
setembro um programa piloto na
TV americana.
"O piloto não mostra a minha
vida, mas é inspirado nela, em
dias típicos de trabalho, com 150
pedidos de almoço, 200 de jantar
e alguns desastres. É muito engraçado", diz.
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