|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Harry Potter e a Ordem da Fênix"
Jovem bruxo retorna ainda mais sombrio
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Os seis anos que separam "A Ordem da Fênix" de "A Pedra Filosofal" (2001), a aventura inaugural de Harry Potter no cinema, se traduzem na expressão
angustiada com que o ator Daniel Radcliffe, o intérprete do
bruxo, assinala, no quinto episódio, a dureza de não ser mais
menino e enfrentar, precocemente, os desafios, traições e
perdas do mundo adulto.
A série foi também amadurecendo com o personagem (e
com os atores). As alegres estripulias, disputas e rebeldias dos
calouros, nos primeiros tempos
de Hogwarts, respondiam pelo
que havia de mais sedutor nos
filmes iniciais.
O convite se endereçava, em
especial, à fatia infanto-juvenil
do público da obra da escritora
J. K. Rowling.
Agora, as seqüências de ação
têm menor relevância no conjunto. Além disso, envolvem
características sombrias. A
morte de Cedrico Diggory (Robert Pattinson) em "O Cálice de
Fogo" (2005) reverbera o tempo todo em "A Ordem da Fênix" -que, como sabem os leitores do romance, promove o
funeral de mais gente.
Ser bruxo já não tem mais
tanta graça em um mundo de
atmosfera pesada, território de
vingança e de confronto político. Poderes sobrenaturais são
usados em legítima (e derradeira) defesa, a partir do momento
em que dementadores interrompem as férias aborrecidas
de Potter em Little Whinging.
Ali, tem início um jogo de intrigas palacianas que apresenta
o personagem aos meandros
burocráticos do Ministério da
Magia e à resistência subterrânea representada pela congregação do título.
Sob intervenção branca, a antes risonha Hogwarts ameaça
se transformar na escola de que
todo adolescente quer sair.
O mundo da bruxaria se encontra em franca desordem,
que o filme costura com habilidade ao inserir o drama pessoal
de Potter no meio do "fogo amigo" entre o ministro Cornélio
Fudge (Robert Hardy) e o diretor Alvo Dumbledore (Michael
Gambon), com o acréscimo da
participação desastrosa da professora Dolores Umbridge
(Imelda Staunton).
Com isso, saem todos enfraquecidos para o que mais interessa: o confronto iminente e
aterrador com Lorde
Voldemort (Ralph Fiennes).
Os desvios na gestão de
Hogwarts, que a distanciam de
seus objetivos, ilustram uma situação que não é só escolar,
mas de formação (termos que,
em tese, caminhariam juntos).
A comunidade de bruxos de
"A Ordem da Fênix", como a
dos humanos de muitos lugares, precisa entrar em acordo
sobre suas políticas de longo
prazo em educação antes que o
Mal triunfe.
HARRY POTTER E A ORDEM DA
FÊNIX
Direção: David Yates
Produção: Inglaterra/EUA, 2007
Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson
Onde: a partir de amanhã em circuito
nacional; para pré-estréias em SP à
0h01, ver roteiro à pág. E11
Avaliação: bom
Texto Anterior: Fãs do bruxo protestam por mais livros Próximo Texto: Ciclo reconstitui história da monarquia francesa Índice
|