São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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Crítica/"Harry Potter e a Ordem da Fênix"

Jovem bruxo retorna ainda mais sombrio

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Os seis anos que separam "A Ordem da Fênix" de "A Pedra Filosofal" (2001), a aventura inaugural de Harry Potter no cinema, se traduzem na expressão angustiada com que o ator Daniel Radcliffe, o intérprete do bruxo, assinala, no quinto episódio, a dureza de não ser mais menino e enfrentar, precocemente, os desafios, traições e perdas do mundo adulto.
A série foi também amadurecendo com o personagem (e com os atores). As alegres estripulias, disputas e rebeldias dos calouros, nos primeiros tempos de Hogwarts, respondiam pelo que havia de mais sedutor nos filmes iniciais.
O convite se endereçava, em especial, à fatia infanto-juvenil do público da obra da escritora J. K. Rowling.
Agora, as seqüências de ação têm menor relevância no conjunto. Além disso, envolvem características sombrias. A morte de Cedrico Diggory (Robert Pattinson) em "O Cálice de Fogo" (2005) reverbera o tempo todo em "A Ordem da Fênix" -que, como sabem os leitores do romance, promove o funeral de mais gente.
Ser bruxo já não tem mais tanta graça em um mundo de atmosfera pesada, território de vingança e de confronto político. Poderes sobrenaturais são usados em legítima (e derradeira) defesa, a partir do momento em que dementadores interrompem as férias aborrecidas de Potter em Little Whinging.
Ali, tem início um jogo de intrigas palacianas que apresenta o personagem aos meandros burocráticos do Ministério da Magia e à resistência subterrânea representada pela congregação do título.
Sob intervenção branca, a antes risonha Hogwarts ameaça se transformar na escola de que todo adolescente quer sair.
O mundo da bruxaria se encontra em franca desordem, que o filme costura com habilidade ao inserir o drama pessoal de Potter no meio do "fogo amigo" entre o ministro Cornélio Fudge (Robert Hardy) e o diretor Alvo Dumbledore (Michael Gambon), com o acréscimo da participação desastrosa da professora Dolores Umbridge (Imelda Staunton).
Com isso, saem todos enfraquecidos para o que mais interessa: o confronto iminente e aterrador com Lorde Voldemort (Ralph Fiennes).
Os desvios na gestão de Hogwarts, que a distanciam de seus objetivos, ilustram uma situação que não é só escolar, mas de formação (termos que, em tese, caminhariam juntos).
A comunidade de bruxos de "A Ordem da Fênix", como a dos humanos de muitos lugares, precisa entrar em acordo sobre suas políticas de longo prazo em educação antes que o Mal triunfe.

HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX


Direção: David Yates
Produção: Inglaterra/EUA, 2007
Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson
Onde: a partir de amanhã em circuito nacional; para pré-estréias em SP à 0h01, ver roteiro à pág. E11
Avaliação: bom



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