São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Esse seu olhar

Maria Fernanda Cândido, premiada como Capitu no cinema, volta a ser a heroína de "olhos de ressaca" em série da Globo

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
A atriz paranaense Maria Fernanda Cândido, 34, que está no quinto mês de gravidez do segundo filhos

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Por que Maria Fernanda Cândido foi, de novo, escalada para interpretar Capitu, a heroína dos "olhos de ressaca, de cigana dissimulada", considerada a maior personagem feminina da literatura brasileira?
Luiz Fernando Carvalho, diretor da adaptação do clássico "Dom Casmurro" para a nova microssérie da Globo, não tem dúvidas: "Maria Fernanda é Capitu. Não importa o que fez antes, ou o que fará depois. Basta olhar para ela e você verá Capitu", responde à Folha.
Foi o que pensou o cineasta Moacyr Góes quando teve a idéia de um longa-metragem inspirado na obra de Machado de Assis. "Nunca tive dúvidas de que Maria Fernanda seria Capitu. Ela tem os olhos de ressaca, um olhar que arrebata e pode afogar quem se sinta atraído por esse mar", diz. "Dom" (2003), apesar de defenestrado pela crítica e ignorado pelo público, rendeu a ela o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado.
Ela fica sem graça quando estão em pauta seus marcantes olhos verdes, levemente puxados. Mas admite estar estudando a melhor forma de transformá-los em uma das principais ferramentas para dar vida a Capitu na microssérie, que começa a gravar na próxima semana.
"O olhar é certamente um elemento forte na obra, e já estou estudando formas de interpretá-lo", diz Maria Fernanda.
Na sessão de fotos para esta reportagem, em São Paulo, ficou claro que, ao menos nesse quesito, a atriz não terá dificuldades no papel. Ex-modelo, ela mira a câmera com um olhar de deixar Bentinho transtornado.
A escritora Ana Maria Machado, que abordou a intrigante personagem no livro "A Audácia Desta Mulher", acredita que a dupla escalação de Maria Fernanda como Capitu esteja relacionada "à sua beleza, que não é superficial, de bonitinha vaidosa, mas de quem olha o mundo querendo enxergar o outro". "Como Capitu, ela tem curiosidade intelectual. Não sei nada da vida de Maria Fernanda, mas ouso dizer que fez faculdade e até pós-graduação."
Meio certo. Maria Fernanda se formou em terapia ocupacional pela USP, mas não fez pós-graduação. Ainda na faculdade, após deixar de lado as atividades de modelo, se envolveu com a carreira de atriz. Estreou na TV como VJ da MTV, em 1996. No ano seguinte, ficou famosa como a moça que corria na abertura da novela "A Indomada", da Globo. Em 1999, teve seu primeiro papel de destaque, em "Terra Nostra".
Mas Maria Fernanda vive envolvida com a academia (não só a de ginástica). Ela é uma das sócias-fundadoras da Casa do Saber, centro com unidades em São Paulo e Rio que promove debates e cursos com professores "estrelados", como o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa. Freqüentado majoritariamente pela elite, já foi apelidado de "Daslusp", referência à Daslu, templo do consumo de luxo. "Ninguém fala dos cursos que damos gratuitamente a professores do Estado e dos 5% de vagas reservados a universitários. Mas podem falar, falar e falar. A Casa do Saber está muito bem, obrigada, e esse trabalho junto a uma classe social mais alta é tão fundamental quanto a um com menos favorecidos. É um conteúdo que pode interferir na forma como as pessoas pensam a sociedade", diz Maria Fernanda.

Traiu?
De volta a Capitu, ela conta ter lido "Dom Casmurro" pela primeira vez no colegial e ficado "com a impressão de que ela traiu Bento". Já na segunda, um pouco mais velha, achou "que ele é que era louco". Agora, em leitura "mais aprofundada", percebeu "que a obra não trata da traição". Concorda com a definição de Luiz Fernando Carvalho de que é "um ensaio sobre a dúvida".
A Globo deve definir nos próximos dias a data de estréia da microssérie, de cinco capítulos.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Figurino de época oculta a gravidez
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.