|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bia Lessa une bula de remédio a Dostoiévski
Após cinco anos, diretora retorna hoje aos palcos ao lado da filha, com texto fragmentário e atores não profissionais
Espetáculo nasceu em grupo de estudos com 21 alunos de diversas áreas que montaram texto e agora compõem elenco
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
Isto não é um espetáculo de
teatro. Os atores, o cenário e o
palco também não são. É quase
tudo "não". Nem a intenção de
Bia Lessa, 51, era a de fazer um
espetáculo, mas sua "não peça"
"Formas Breves" estreia hoje
no teatro Tom Jobim, dentro
do Jardim Botânico, no Rio.
Distante dos palcos há cinco
anos, a diretora e cenógrafa dedicou os últimos meses a um
grupo de estudos, com 21 alunos, sobre o homem e suas aflições. "Não tinha texto para trabalhar, não tinha nada", conta.
Como exercício, os alunos
-há atores, estudantes, uma
advogada, uma psicóloga, entre
outros, que são agora o "não
elenco"- levavam livros e discutiam trechos que, meses depois, formaram o "não texto".
Fragmentos de obras de James Joyce, Dostoiévski, Robert
Musil, Sérgio e André Sant'Anna, entre outros, inspiram a peça, que também agregou frases
de bulas de remédio e nomes da
lista telefônica.
Conectar os pedaços é ideia
de Maria Borba, 30, física, dramaturga do espetáculo e filha
de Bia. "Sempre li textos muito
desconexos e achava que daria
para juntá-los de algum jeito."
Já Bia sofria do que, diz, é
uma das causas de sua pausa no
teatro. "Sempre tive necessidade de ter um texto. Faço pouco
teatro porque dificilmente encontro alguma coisa que me faça dizer: "Caramba, é isso o que
eu quero falar!'", diz.
"Para mim, teatro tem que
ser assim. Não dou conta de
montar um bom Shakespeare.
É genial, mas não tenho esse
desprendimento. Preciso estar
muito conectada."
Definido o texto, o debate se
voltou para cenário e figurino.
"A gente se perguntou o que era
necessário. Precisa de figurino?
Cenário precisa? O que precisa
para dizer o que a gente quer dizer?", conta Bia.
Autora de cenografias -como a da mostra sobre Guimarães Rosa no Museu da Língua
Portuguesa, em São Paulo-, ela
cortou de 600 para 300 os lugares da plateia do teatro. O palco
ficou maior, e é lá que roupas
serão suspensas por cabides e
cabos ao longo do espetáculo. O
"não figurino" irá de peças pretas à nudez dos atores.
"Não sou interessada em cenário. Me interesso por espaço.
Cenário sempre fica uma decoração. Eu penso: "Que geografia
vamos criar para as pessoas entrarem nesse universo?'"
FORMAS BREVES
Quando: estreia hoje, às 20h; de sex. a
dom., às 20h, até 30/ 8
Onde: Espaço Tom Jobim Cultura Meio-Ambiente (r. Jardim Botânico, 1.008,
Rio de Janeiro; tel. 0/xx/21/2274-7012)
Quanto: R$ 40
Classificação: 14 anos
Texto Anterior: Tcheco faz crítica sociopolítica do Leste Europeu com imagens nonsense Próximo Texto: Última Moda: Alta-costura "low profile" Índice
|