São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA DRAMA

"Almas à Venda" faz sátira ao pragmatismo americano

Estreia de Sophie Barthes tem pé em ficção científica e teatro do absurdo

ALEXANDRE AGABITI
FERNANDEZ

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O primeiro longa da francesa Sophie Barthes, radicada nos EUA há dez anos, é um mergulho burlesco nos recônditos da psique, com um pé na ficção científica mais extravagante e o outro no teatro do absurdo.
O ponto de partida é original -existe uma tecnologia que extrai a alma do corpo e introduz nele a alma de outra pessoa- e abre espaço para uma reflexão sobre as neuroses da profissão de ator.
O nova-iorquino Paul Giamatti ensaia a peça "Tio Vânia", de Tchekhov, na qual encarna uma figura depressiva. Isso o angustia a ponto de ele decidir se livrar de sua alma, recorrendo a uma clínica de alta tecnologia.
Depois de operado, ele descobre que sua alma tem o aspecto de um grão de bico, que cai no chão e quase o desespera. Ele passa a atuar de modo pouco convincente nos ensaios, desconcertando o diretor e os outros atores em cenas engraçadíssimas.
Para penetrar mais no personagem, resolve implantar a alma de uma poeta russa.
As coisas se complicam quando ele se depara com o tráfico de almas entre a Rússia e os EUA, que acaba dominando o resto do filme.
As digressões sobre a alma perdem então espaço. Uma pena, pois elas cruzavam sarcasmo e Jung, que vincula em "O Homem à Descoberta da Sua Alma" a tragédia do homem moderno ao distanciamento da alma.
Outra referência é o romance "Almas Mortas", de Gógol, uma sátira da Rússia escravocrata. Do mesmo modo, o filme satiriza pelo absurdo a sociedade americana e seu pragmatismo aparentemente sem limites.



ALMAS À VENDA

DIREÇÃO Sophie Barthes
PRODUÇÃO EUA, 2009
COM Paul Giamatti, David Strathairn e Emily Watson
ONDE Cine Bombril 1, Cinesesc e circuito
CLASSIFICAÇÃO 10 anos
AVALIAÇÃO regular



Texto Anterior: "Fábrica" de best-sellers, Sparks bebe em romances açucarados
Próximo Texto: Crítica/Comédia: Filme juvenil francês se perde ao tentar parecer americano
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.