São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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Artista representou condição humana atormentada e violenta

da Reportagem Local

O pintor irlandês Francis Bacon (1909-1992) viveu uma vida longa, intensa, trágica e absolutamente pessoal, repleta de álcool, drogas, sexo e acasos (era um jogador inveterado). Para ele, antropofagia pouca era bobagem, e por isso devorou estéticas, éticas e lógicas sem qualquer regra de etiqueta.
Bacon optou por imagens sinistras, mas com grande poder de sedução, espelhos de uma condição humana atormentada e repleta de violência.
Sua arte foi contra todo o movimento pós-Segunda Guerra, que privilegiava a arte abstrata.
A antropofagia em Bacon se manifesta na maneira como ele devorou, sem cerimônias, toda a história da arte e como fundiu os corpos, cancelou seus limites físicos ou os fragmentou.
Suas distorções da figura humana buscavam um desvio do olhar, tentavam representar a figura retratada e sua experiência, sem interpretações simbólicas. Não se trata de uma leitura do objeto.
São pinturas de alta carga dramática, que dão às mais simples figuras humanas uma intensidade atormentadora. Seus retratos, por exemplo, funcionam como intensas labaredas envoltas em uma espaço frio e asséptico.
Autodidata, Bacon optou pela pintura em 1929, depois de ver uma mostra de Picasso. Em 1945, decidiu que não produziu nada de interessante, destruiu toda a sua produção anterior e começou tudo de novo.
Apesar das deformações, da pincelada forte, das cores vibrantes, Bacon não se dizia expressionista, pois não pretendia transmitir suas emoções ou uma mensagem sobre o mundo, mas apenas retratá-lo. Suas telas são cenográficas e se assemelham a palcos teatrais na maneira em que ele isola o personagem e delimita de maneira precisa as zonas ativas e neutras no espaço pictórico. (CELSO FIORAVANTE)


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