São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Artista tinha fascinação por bocas

da Reportagem Local

"Gostaria de pintar uma boca como Monet pinta um crepúsculo". Assim, com uma frase, Bacon descreveu seu fascínio pela boca. Segundo ele, o grito que se vê em suas obras não tem qualquer relação com a obra "O Grito", de Munch, mas, com certeza, remete a outras obras que marcaram seu início de carreira.
Em 1925, Bacon vê pela primeira vez "A Matança dos Inocentes", de Poussin, que traz a imagem de uma mãe gritando. Essa imagem será recorrente em seus primeiros trabalhos, junto à cena da enfermeira que grita em "O Encouraçado Potemkin", de Eisenstein.
Sua fixação pela boca também pode ser resultado do fascínio causado por um livro que ele comprou sobre doenças da boca. Também pode ser resultado do relaxamento muscular das mandíbulas de um cadáver.
A boca é, para Bacon, o veículo das mais concentradas experiências de agonia e êxtase, e o grito é o momento em que o homem mais se aproxima do animal. Em seu texto para a retrospectiva do artista na Tate Gallery, em 1985, Dawn Ades escreveu que "Bacon não pretende desumanizar o ser humano, mas mostrar as características animais de um homem em sua extrema experiência".
A curadora observa ainda que a boca funciona como o veículo das mais profundas experiências físicas e psicológicas e que, em várias obras, Bacon inverte a posição dos corpos e a boca assume o lugar dos órgãos genitais. (CF)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.