São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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INTERNET
Site criado há menos de um ano divulga músicas de 40 novos artistas
Neoradio abre espaço para o som de bandas novatas

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

Se o sonho de toda banda alternativa é justamente deixar o porão, uma grande possibilidade está, hoje, paradoxalmente, num meio ainda alternativo, a Internet.
Um site com menos de um ano de operação, o Neoradio (www.neoradio.com), é uma das formas de divulgação de cerca de 40 artistas novos -alguns nem tanto, como Pavilhão 9 e Inocentes-, que lá têm suas letras.
É possível colocar até cinco músicas, disponíveis para quem tem um programa Real Audio no computador, agenda de shows e, digamos, seus pensamentos vivos.
Nomes como Funk Trunk, Jeff Izaki e Cynthia Lucci, esta a mais recente "aquisição" do site e com show hoje na cidade, utilizam o meio. "O site funciona para quem nunca ouviu falar na banda. Não digo que seja indispensável, mas já comercializamos discos por meio dele", diz Daniel Xingú, vocalista do Funk Trunk.
Edu Cayres, responsável pelo site junto com Fábio Marão, vê outra utilidade na Neoradio. "Conheço produtores musicais e sei que eles não ouvem as fitas que as bandas enviam. Mas eles visitam o site, e lá podem ouvir essas mesmas bandas, anônimos e sem qualquer pressão."
Embora a novidade não tenha chegado aos ouvidos dos produtores das majors, alguns selos menores estão atentos. "Considero esses sites ferramentas fundamentais. É mais cômodo para o produtor, não precisamos ficar ouvindo fitas inteiras, às vezes apenas trechos de músicas são suficientes", diz José Luiz "Crazy", gerente artístico da Paradoxx, que fechou contrato com uma banda de Recife, a General Frank, depois de ouvi-la na Internet.
O Neoradio não exclui gêneros, desde que os artistas sejam brasileiros. Para este semestre, seus sócios acreditam num boom do serviço. "Planejamos estar com 250 artistas até o fim do ano", diz Cayres, que afirma ter 6.000 usuários cadastrados e 15 mil visitas mensais ao site.
O site parece estar se revelando bom negócio para seus sócios, mas eles rejeitam a idéia de extendê-lo para outras áreas. "Temos afinidade com música. Se fizéssemos um site de poesia, por exemplo, teríamos um envolvimento meramente comercial com ele", diz Cayres.
Lojas
É raro encontrar discos dos alternativos nas lojas (exceção da Pops, na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros), mesmo com os artistas prensando, em média, mil CDs de seu trabalho. A possibilidade de vendê-los por meio do site, portanto, não é menosprezada.
Jeff Izaki, que ganhou alguma notoriedade quanto tinha Letícia Sabatella como colega no conjunto Tuba Intimista, vê no site uma "maneira de mostrar o trabalho, já que não há ninguém que me mostre".
Com mil cópias de seu disco prontas há três meses, bateu à porta de vários selos, sem sucesso. Fez um único show de lançamento, mas lastima a divulgação dele. Restou-lhe a Internet. Mas a coisa não enfezou. "Ainda não vendi disco nenhum", lamenta.



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