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CINEMA ESTRÉIAS
"Maluquinho' é "ET' caipira picando fumo
especial para a Folha
Depois da compra do banco
Real, o fato relevante da semana,
senhores pais, é a estréia do filme
"O Menino Maluquinho 2 - A
Aventura".
Abandonem sua natural aversão
por filmes brasileiros e submetam
seus filhos a 92 minutos de honestíssima, competentíssima e inteligente, se é que é possível, diversão.
Perdão pelos superlativos.
Filme caro para a indústria brasileira (R$ 5,4 milhões, informação juramentada do produtor),
"Maluquinho" transcende elementos que poderiam depreciá-lo:
é uma continuidade; a família Alves Pinto parece estar toda nele
(argumento, roteiro, direção, trilha); e é, por fim, filme segmentado -embora autor e diretor não
tivessem nem de longe pensado
em outra coisa.
O grande mérito de "Maluquinho", filme baseado no conhecido
personagem infantil de Ziraldo, é
tornar possível um "plot" de
aventura num ambiente de costumes, fábulas e, acredite, política
brasileiras.
A trama: Tonico (interpretado
por Stênio Garcia), avô do Menino
Maluquinho, quer comemorar o
centenário da pequena cidade mineira onde vive; Costa, o prefeito,
movido por rixas ancestrais, fará
de tudo para abortar o plano. Enquanto isso, o Menino Maluquinho e seus amigos conhecem o Tatá Miri, um personagem fabuloso,
voador, em forma de fogo-fátuo.
Caboclismo
Há nele alusões ao clássico "ET"
-a voz digitalizada e seu contato
físico com o Menino Maluquinho-, mas o que sobressai no filme é o aspecto boitatá, um caboclismo indisfarçável, até bastante
estereotipado, mas que certamente desperta um atávico orgulho
nacional.
É como se estivéssemos diante
do "Caipira Picando Fumo", o célebre quadro de Almeida Júnior,
em versão animada.
Tonico vai chamar os bombeiros
para ajudá-lo a achar o neto perdido, e estes se mostram parvos e indolentes (para não dizer trapalhões, o que atrapalharia um pouco a tese).
Beatas que parecem irmãs xifópagas maquinam contra os planos
de Tonico, baseadas num suposto
estímulo demoníaco a purgar;
Nerso da Capitinga é quem interpreta o Monsenhor.
É difícil imaginar que tal imaginário passeie pelas cabeças mirins
urbanas, mas a tradição pode ter
efeitos de sedimentação surpreendentes.
Não há games, computadores,
nem televisão sequer, mas fogos
de artifício, trem e vovô generoso,
incapaz de advertir minimamente
os infantes.
Nem por isso o efeito é de estranheza. Mas, falando assim, nem
parece que há cenografia e direção
de arte caprichadas, enquadramentos surpreendentes e montagem nervosa em "O Menino Maluquinho 2 - A Aventura".
Para ficar mais "internacional",
só se a cena do trem causasse realmente medo.
Falou-se de uma possível minissérie televisiva do Menino Maluquinho (que seria exibida pela
Manchete), mas isso está parecendo mais é conversa fiada.
Se vier, já dá para imaginar algo
mais para Dias Gomes que Marlene Mattos. Oxalá.
(PAULO VIEIRA)
Filme: O Menino Maluquinho 2 - A
Aventura
Direção: Fernando Meirelles e Fabrizia
Pinto
Produção: Brasil, 1998
Com: Samuel Costa, Stênio Garcia, Cláudio
Cavalcanti, Pedro Bismarck
Quando: a partir de hoje, nos cines Olido 2,
Market Place 3, Espaço Unibanco de
Cinema - sala 1 e circuito
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