São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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CINEMA ESTRÉIAS
"Maluquinho' é "ET' caipira picando fumo

especial para a Folha

Depois da compra do banco Real, o fato relevante da semana, senhores pais, é a estréia do filme "O Menino Maluquinho 2 - A Aventura".
Abandonem sua natural aversão por filmes brasileiros e submetam seus filhos a 92 minutos de honestíssima, competentíssima e inteligente, se é que é possível, diversão. Perdão pelos superlativos.
Filme caro para a indústria brasileira (R$ 5,4 milhões, informação juramentada do produtor), "Maluquinho" transcende elementos que poderiam depreciá-lo: é uma continuidade; a família Alves Pinto parece estar toda nele (argumento, roteiro, direção, trilha); e é, por fim, filme segmentado -embora autor e diretor não tivessem nem de longe pensado em outra coisa.
O grande mérito de "Maluquinho", filme baseado no conhecido personagem infantil de Ziraldo, é tornar possível um "plot" de aventura num ambiente de costumes, fábulas e, acredite, política brasileiras.
A trama: Tonico (interpretado por Stênio Garcia), avô do Menino Maluquinho, quer comemorar o centenário da pequena cidade mineira onde vive; Costa, o prefeito, movido por rixas ancestrais, fará de tudo para abortar o plano. Enquanto isso, o Menino Maluquinho e seus amigos conhecem o Tatá Miri, um personagem fabuloso, voador, em forma de fogo-fátuo.
Caboclismo
Há nele alusões ao clássico "ET" -a voz digitalizada e seu contato físico com o Menino Maluquinho-, mas o que sobressai no filme é o aspecto boitatá, um caboclismo indisfarçável, até bastante estereotipado, mas que certamente desperta um atávico orgulho nacional.
É como se estivéssemos diante do "Caipira Picando Fumo", o célebre quadro de Almeida Júnior, em versão animada.
Tonico vai chamar os bombeiros para ajudá-lo a achar o neto perdido, e estes se mostram parvos e indolentes (para não dizer trapalhões, o que atrapalharia um pouco a tese).
Beatas que parecem irmãs xifópagas maquinam contra os planos de Tonico, baseadas num suposto estímulo demoníaco a purgar; Nerso da Capitinga é quem interpreta o Monsenhor.
É difícil imaginar que tal imaginário passeie pelas cabeças mirins urbanas, mas a tradição pode ter efeitos de sedimentação surpreendentes.
Não há games, computadores, nem televisão sequer, mas fogos de artifício, trem e vovô generoso, incapaz de advertir minimamente os infantes.
Nem por isso o efeito é de estranheza. Mas, falando assim, nem parece que há cenografia e direção de arte caprichadas, enquadramentos surpreendentes e montagem nervosa em "O Menino Maluquinho 2 - A Aventura".
Para ficar mais "internacional", só se a cena do trem causasse realmente medo.
Falou-se de uma possível minissérie televisiva do Menino Maluquinho (que seria exibida pela Manchete), mas isso está parecendo mais é conversa fiada.
Se vier, já dá para imaginar algo mais para Dias Gomes que Marlene Mattos. Oxalá.
(PAULO VIEIRA)


Filme: O Menino Maluquinho 2 - A Aventura Direção: Fernando Meirelles e Fabrizia Pinto Produção: Brasil, 1998 Com: Samuel Costa, Stênio Garcia, Cláudio Cavalcanti, Pedro Bismarck Quando: a partir de hoje, nos cines Olido 2, Market Place 3, Espaço Unibanco de Cinema - sala 1 e circuito


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