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LIVRO
"Os Crimes de Charlotte Brontë", lançado no Reino Unido, traz à luz assassinatos e questiona autoria de obra
Algo de podre no lar das irmãs Brontë
SYLVIA COLOMBO
de Londres
O pântano próximo ao vilarejo
de Haworth, no norte da Inglaterra, inspirou o cenário sombrio de
um dos clássicos da literatura britânica: "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë.
Segundo o escritor e criminologista James Tully, porém, essa
paisagem soturna também teria
presenciado os encontros fortuitos e as intrigas criminosas que
dinamitaram a literária e misteriosa família Brontë. É isso que o
autor mostra em "Os Crimes de
Charlotte Brontë", livro que acaba
de ser lançado no Reino Unido.
Depois de pesquisar antigas cartas, testamentos e rascunhos,
Tully levanta a teoria de que a família Brontë teria vivido envolta
em assassinatos, traições e vinganças, além de questionar a autoria de algumas obras.
A família Brontë viveu no velho
presbitério do vilarejo de Haworth, entre os anos de 1820 e
1861. Foi ali que as irmãs Charlotte, Emily e Anne, filhas do reverendo Patrick Brontë, escreveram
algumas obras-primas da literatura do período vitoriano.
Charlotte, a mais velha, contribuiu com "Jane Eyre" e outros romances; Emily, com "O Morro
dos Ventos Uivantes"; e Anne,
com "The Tenant of Wildfell
Hall".
Havia ainda um irmão, Branwell, que vivia bêbado e envolto
em crimes de extorsão, para
quem os familiares não pareciam
dar muita atenção.
Vamos à história oficial: as três
irmãs eram caladas, devotadas ao
pai, gostavam umas das outras e
não tinham grande interesse pelo
sexo oposto. Apesar da pouca
educação escolar, as irmãs possuíam o dom da narrativa e a paixão pela literatura, ambicionando
apenas a pureza formal em seus
romances.
O aparecimento de um homem
na família, Arthur Bell Nicholls,
trouxe uma grande alegria à primogênita, Charlotte. Nicholls,
empregado em Haworth como
assistente do reverendo Brontë,
casou-se com ela depois da morte
trágica de Emily e Anne, ambas
abatidas pela tuberculose.
Charlotte, porém, também
morreu poucos meses depois de
seu casamento, consumida pelo
mesmo mal.
Assim, em menos de uma década, todos os irmãos Brontë, inclusive Branwell, estavam mortos.
Jovens, teriam sido vítimas das
terríveis condições climáticas e da
fragilidade agravada por doenças
respiratórias.
Durante muito tempo, a narrativa acima ficou gravada como a
verdade sobre o destino dos
Brontë, ainda que alguns acadêmicos tivessem questionado a autoria de um ou outro livro e levantassem a hipótese de conspiração.
Agora, vamos à versão de James
Tully. Em "Os Crimes de Charlotte Brontë", o escritor britânico
aposta na possibilidade de que
Arthur Nicholls tenha envenenado as duas irmãs Emily e Anne,
interessado em embolsar os lucros de suas obras. Nicholls teria
agido tendo Charlotte como cúmplice. O casamento de ambos teria, então, viabilizado a tomada
da herança.
Tully acredita ainda que Nicholls também tenha sido o responsável pela morte da própria
Charlotte, do irmão Branwell e do
reverendo Patrick.
Como evidências, ele apresenta
cartas que revelam novos ingredientes do imbróglio. Emily e Nicholls teriam tido um caso, e ele a
teria estimulado a roubar a idéia
da história de "O Morro dos Ventos Uivantes", que na verdade seria do irmão Branwell. Depois,
Nicholls teria tratado de eliminar
ambos. Ainda segundo Tully,
Emily teria ficado grávida de Nicholls, que temia que isso pudesse
estragar sua reputação.
Para apresentar suas descobertas, Tully escreveu "Os Crimes de
Charlotte Brontë" em formato de
romance, nos moldes da narrativa celebrizada pelos Brontë. A
versão do escritor é relatada por
meio de dois pontos de vista fictícios: o diário da governanta da casa e o relato de um advogado que
encontra o diário anos depois.
A Sociedade Brontë protestou
contra a publicação do livro:
"Nem o senhor Tully, nem ninguém pode saber o que realmente
aconteceu naquela época", disse
Bob Bannard, um dos diretores
da organização.
Tully responde: "É muito estranho que três moças tão jovens tenham se interessado por literatura ao mesmo tempo e morrido
pouco depois. Tudo leva a crer
que tenham sido manipuladas".
Livro: The Crimes of Charlotte Brontë
Autor: James Tully
Lançamento: Robinson Publishing
Quanto: US$ 22 (282 págs.)
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