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LIVRO/LANÇAMENTO
"Função Fraterna", coletânea de ensaios, é lançada em SP
Psicanalistas trocam pai por irmão
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1913, Sigmund Freud escreveu no célebre ensaio "Totem e
Tabu" que por trás da fundação
da civilização estaria um mito, o
do assassinato do pai. Submetidos pela força a um pai poderoso,
os filhos matam o patriarca e, culpados, colocam a lei no lugar.
Agora é a vez de o pai da psicanálise ser golpeado. Um grupo de
psicanalistas pede licença a Freud
e lança hoje em São Paulo o livro
"Função Fraterna", em que tenta mostrar que "o que falta é
que os irmãos, os semelhantes, se
reconheçam como instância de
fundação do poder".
As aspas são da psicanalista e
ensaísta Maria Rita Kehl, organizadora do livro, que conta com
textos de outros oito pesquisadores que têm, entre si, "uma relação
fraterna dentro da psicanálise".
Kehl conta que a idéia do livro
começou a germinar em um debate no Rio de Janeiro, em 1997.
Durante sua exposição, chegou
à conclusão de que, neste momento de "crise de instituições, de
autoridades e de comportamentos", não precisamos "de mais autoritarismo, mais pai, mais lei".
"O que falta é que os irmãos se legitimem", diz a psicanalista.
Não se trata propriamente de
um novo assassinato do pai, nem
mesmo de uma facada letal em
Freud, mas do fortalecimento dos
irmãos. "Quem faz o laço social é
quem está vivo. O pai morto é
uma referência, mas não é o limite
do que pode", propõe a autora. "A
própria teoria psicanalítica pode
se esterilizar se ficar muito apegada a essa idéia de uma dívida com
o pai."
"Função Fraterna", o livro,
aborda a questão de vários pontos
de vista. A obra é dividida em
duas partes, posteriores ao prefácio do professor Jurandir Freire
Costa e à introdução de Kehl.
Na primeira, os psicanalistas
Leandro de Lajonquière, Ana Maria Medeiros da Costa e o trio Ana
Elizabeth Cavalcanti, Cármen
Cardoso e Paulina Schmidtbauer
Rocha tratam do papel da fraternidade nas instituições democráticas, na modernidade, na legitimação da autoridade e mesmo na
instituição psicanalítica.
Na segunda parte, está a idéia de
que é entre semelhantes também
que se produzem novos fatos culturais, tema expresso em ensaios
de Luís Cláudio Figueiredo, Joel
Birman e da organizadora do livro.
Em "Fratria Órfã", Kehl toma
como base a produção dos Racionais MCs, grupo de rap da periferia paulistana, para mostrar a
busca cultural da identidade fundada na semelhança.
"O grupo nasce de um local de
excluídos, e eles não fazem um
apelo de inclusão para as autoridades, para a mídia, para a elite.
Procuram o semelhante como se
fossem construir a civilização a
partir de baixo. Chamo isso de
um esforço civilizatório", explica.
A psicanalista frisa que o semelhante sobre quem discorrem os
ensaios não é o igual. "A fraternidade não é o lugar da igualdade. É
justamente o lugar em que você se
depara com o diferente. E é nesse
surgimento do semelhante que se
completa a tarefa de formação do
sujeito."
Livro: Função Fraterna
Organizadora: Maria Rita Kehl
Editora: Relume-Dumará
Quanto: R$ 26 (248 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h30
Onde: livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/285-4033, Cerqueira
César, São Paulo)
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