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Música
DVD desvenda histórias por trás da obra de Edu Lobo
"Vento Bravo", de Regina Zappa e Beatriz Thielmann, registra depoimentos do compositor sobre suas criações e parcerias
Músico relembra noitadas com Tom e Vinicius, e conta que percebeu que precisaria "inventar algo" para ser um parceiro à altura dos colegas
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
"Vento Forte", o primeiro
documentário sobre a vida de
Edu Lobo, mostra o compositor revendo Recife e reencontrando o parceiro Gianfrancesco Guarnieri em São Paulo.
Mas, na maior parte dos 80 minutos, ele está numa sala em
São Conrado (zona sul do Rio),
em que se esbarram um piano,
violões, CDs, DVDs e LPs.
"É uma concha que você abre
para buscar a pérola lá dentro",
diz a jornalista Regina Zappa
sobre o escritório de Edu e o filme que dirigiu ao lado da colega
Beatriz Thielmann (com fotografia de Walter Carvalho), que
a Biscoito Fino lança em DVD
neste mês. "É o bunker", ironiza a "pérola".
"Sou muito mais de casa do
que eu era. É uma escolha. Essa
casa, na verdade, eu conheço
pouco. Conheço esse lugar
aqui. Só janto lá embaixo quando tem filho. Não vou jantar sozinho olhando para a mangueira. Aí fica muito triste", conta o
músico, de novo com ironia.
A "escolha" não tem a ver
com timidez ou devoção ao silêncio. "Parece o contrário, mas
gosto de conversar. E também
falo fora daqui", ressalta. Só
que ele fica mais à vontade em
sua toca, como sabiam as duas
jornalistas. Elas começaram
em 2005 filmando um show de
Edu, mas decidiram que os depoimentos, incluindo as explicações sobre suas músicas, seriam dados no escritório. Foi o
que fizeram no ano passado.
"O show tinha uma formalidade que aqui no buraco não
tem", resume ele. O tal show
-no recém-extinto Mistura Fina, no Rio- virou um grande
extra no documentário e teve a
ordem das canções alterada pelo autor. "Foi a única interferência que me foi permitida.
Tentei outras, mas ouvi barulho de polícia e achei melhor
não falar nada", brinca.
Edu, 63, debita parte da reclusão à perda de dois de seus
mestres. "O Vinicius [de Moraes] morreu [em 1980]. Depois
[em 1994], o Tom resolveu
morrer. E Vinicius era um organizador de festas. A gente achava que estava na bandalha, mas
estava trabalhando. Bendita
bandalha", diz, recordando as
noitadas musicais dos anos 60.
Nesses encontros, percebeu
o quão difícil era seu futuro como compositor de bossa nova e
parceiro de Vinicius. "Os principais parceiros dele eram
Tom, Baden [Powell] e Carlinhos Lyra. Pensei: "Se não inventar alguma coisa, estou frito. Vou ficar mostrando o que
eles já fizeram?'", conta ele, que
foi buscar na memória das férias escolares passadas em Recife, cidade de seus pais, ingredientes para criar uma inconfundível assinatura musical.
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