São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

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Música

DVD desvenda histórias por trás da obra de Edu Lobo

"Vento Bravo", de Regina Zappa e Beatriz Thielmann, registra depoimentos do compositor sobre suas criações e parcerias

Músico relembra noitadas com Tom e Vinicius, e conta que percebeu que precisaria "inventar algo" para ser um parceiro à altura dos colegas

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

"Vento Forte", o primeiro documentário sobre a vida de Edu Lobo, mostra o compositor revendo Recife e reencontrando o parceiro Gianfrancesco Guarnieri em São Paulo. Mas, na maior parte dos 80 minutos, ele está numa sala em São Conrado (zona sul do Rio), em que se esbarram um piano, violões, CDs, DVDs e LPs.
"É uma concha que você abre para buscar a pérola lá dentro", diz a jornalista Regina Zappa sobre o escritório de Edu e o filme que dirigiu ao lado da colega Beatriz Thielmann (com fotografia de Walter Carvalho), que a Biscoito Fino lança em DVD neste mês. "É o bunker", ironiza a "pérola".
"Sou muito mais de casa do que eu era. É uma escolha. Essa casa, na verdade, eu conheço pouco. Conheço esse lugar aqui. Só janto lá embaixo quando tem filho. Não vou jantar sozinho olhando para a mangueira. Aí fica muito triste", conta o músico, de novo com ironia.
A "escolha" não tem a ver com timidez ou devoção ao silêncio. "Parece o contrário, mas gosto de conversar. E também falo fora daqui", ressalta. Só que ele fica mais à vontade em sua toca, como sabiam as duas jornalistas. Elas começaram em 2005 filmando um show de Edu, mas decidiram que os depoimentos, incluindo as explicações sobre suas músicas, seriam dados no escritório. Foi o que fizeram no ano passado.
"O show tinha uma formalidade que aqui no buraco não tem", resume ele. O tal show -no recém-extinto Mistura Fina, no Rio- virou um grande extra no documentário e teve a ordem das canções alterada pelo autor. "Foi a única interferência que me foi permitida. Tentei outras, mas ouvi barulho de polícia e achei melhor não falar nada", brinca.
Edu, 63, debita parte da reclusão à perda de dois de seus mestres. "O Vinicius [de Moraes] morreu [em 1980]. Depois [em 1994], o Tom resolveu morrer. E Vinicius era um organizador de festas. A gente achava que estava na bandalha, mas estava trabalhando. Bendita bandalha", diz, recordando as noitadas musicais dos anos 60.
Nesses encontros, percebeu o quão difícil era seu futuro como compositor de bossa nova e parceiro de Vinicius. "Os principais parceiros dele eram Tom, Baden [Powell] e Carlinhos Lyra. Pensei: "Se não inventar alguma coisa, estou frito. Vou ficar mostrando o que eles já fizeram?'", conta ele, que foi buscar na memória das férias escolares passadas em Recife, cidade de seus pais, ingredientes para criar uma inconfundível assinatura musical.


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