São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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MuBE demite o curador Jacob Klintowitz e revela falta de rumo

Diretor do museu, Jorge Landmann, diz que novo eixo será "arte-terapia"

DA REPORTAGEM LOCAL

Deve ficar mais vazio o Museu Brasileiro da Escultura. Na quinta passada, o curador Jacob Klintowitz foi demitido, seguido de um anúncio que o MuBE não terá mais alguém fixo nesse cargo -decisão que deixa evidente a falta de rumo que vem abalando o museu.
Faz dois anos que a direção da instituição cassou o mandato da ex-presidente Marilisa Rathsam e pôs no lugar Jorge Landmann, que indicou Klintowitz para o cargo de curador. Era uma tentativa de reerguer o espaço, que ficou conhecido como "museu de aluguel".
Mas não parece ter funcionado. "O museu agora acha que todas as exposições têm de ser lucrativas, e eu não entendo de lucro, só entendo de arte", disse Klintowitz à Folha. "Museu sem curador não existe, é como um hospital sem médico."
Landmann discorda. Diz ser "conceitualmente" desnecessária a figura de um curador.
Mesmo assim, Klintowitz diz ter devolvido o museu ao panorama cultural da cidade, passando de "buraco negro" a "galáxia". A frequência do MuBE, de fato, aumentou, mas continua baixa -cerca de 70 mil visitantes por ano. Também é esquizofrênico o programa de exposições, que vai de mostras sobre jovens grafiteiros à homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa.
"Nós colocamos coisas boas, coisas que chamaram público, coisas que interessam aos patrocinadores", define Landmann. "Foi um misto grande."
Nesse "misto", não cabe um curador. Alegando não ter verbas para manter alguém no cargo, o MuBE decidiu então extinguir a função. Klintowitz diz deixar o museu sem ter recebido um ano de salários.
Mesmo se a trajetória de Klintowitz está longe de ter sido exemplar, a falta de um curador é um "retrocesso" na opinião do secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil.
"Pelo visto, o MuBE é impermeável a projeto cultural", diz Calil. Ainda corre na Justiça um processo que tomaria de volta o terreno e o prédio do MuBE, projeto de Paulo Mendes da Rocha, construído com verbas públicas (cerca de R$ 35 milhões foram investidos ali).
No lugar de um projeto curatorial, Landmann quer agora instituir a "arte-terapia" como eixo central do museu. "É trabalhar via arte a deficiência de uma pessoa, para ela se sentir mais inserida no mundo", diz.
Em outras palavras, seriam mostras para deficientes visuais, auditivos, paraplégicos, sem uma definição clara do que haveria em cada exposição. "Isso foge um pouco a uma curadoria, é uma ação cultural para a sociedade", diz Landmann.
"Arte-terapia não pode ser um eixo, é um complemento de política cultural", rebate Calil. "Jamais o projeto cultural do MuBE se completou; é mais uma prova que as pessoas [no museu] estão desorientadas."
Landmann, que integrou a diretoria anterior e está há dois anos como o titular do MuBE, diz que ainda está tentando traçar um perfil para a instituição. "Nenhum museu é o que quis ser", afirma. (SM)


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