São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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Antonio Nóbrega se inspira em "Grande Sertão"

Músico e dançarino mistura capoeira, frevo e Tchaikovsky em espetáculo que estreia na quinta no Sesc Vila Mariana

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Você acha que os movimentos da dança clássica podem contar a história do Riobaldo? Não. Riobaldo era sincopado." Riobaldo, o personagem que Guimarães Rosa fez apaixonar-se por Diadorim, anda enfronhado na cabeça de Antonio Nóbrega. É que o artista, chamado de "múltiplo", está em dias dançantes. Atrás de passos autênticos, foi parar em "Grande Sertão: Veredas", o livro narrado por Riobaldo.
"Se o matuto deixar de falar daquele jeito, teremos Guimarães. Já nosso imaginário corporal vai se perder", diz, refazendo o percurso que o conduziu a "Naturalmente - Teoria e Jogo de uma Dança Brasileira", seu novo espetáculo.
Nóbrega, que botou o violino a serviço do frevo e transformou folguedos em teatro, pretende dar novo sentido à ginga brasileira. "Quero, a partir do imaginário corporal popular, criar um universo que transcenda os limites folclóricos. Quero pegar a dança do índio, a capoeira, o frevo e colocá-los em outro contexto."
A quem tal explicação soa misteriosa, convém parar um instante na história de Nóbrega. O artista, nascido em Recife e radicado em São Paulo, é um reinventor de códigos. Tocava violino numa orquestra quando, convidado por Ariano Suassuna, foi integrar o Quinteto Armorial. Descobriu que havia mais semelhanças entre Roberto Carlos, frevo e Mozart do que supunham seus dedos de instrumentista. Foi então que, pelas periferias de Recife e pelos paralelepípedos de Olinda, começou a buscar artistas populares. "Naquele momento, fui seduzido pelo gestual brasileiro. Agora, consegui codificar tudo isso", diz, referindo-se ao novo espetáculo, o primeiro dedicado inteiramente à dança desde "Figural" (1991).
Entre um número e outro, ele vai, feito contador de histórias, esmiuçar sua teoria. "Tenho pra mim que esse é um assunto estranho", diz, mais por prudência que por convicção, antes de exibir, sem ponta de pé, um trecho da suíte "Quebra-Nozes", de Tchaikovsky. "Na música, o Brasil assimilou o que vem de fora e, ao mesmo tempo, conservou seus padrões distintivos. Na dança, não. Frevo e capoeira se comunicam com as danças do mundo."
Sincopado, "como até Garrincha era", Nóbrega deseja tirar não só os passos, mas ele próprio, do escaninho reducionista do folclore. "Para me compreender, sempre falam em folclórico, raiz. Esse não é o território onde me ajusto. Meu trabalho não é de resgate, é de incorporação de elementos populares à cultura vigente. A carapuça de tradicional não me cai bem."


NATURALMENTE

Quando: de quinta a sábado, às 18h; e domingo, às 21h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação indicativa: 12 anos


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