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Antonio Nóbrega se inspira em "Grande Sertão"
Músico e dançarino mistura capoeira, frevo e Tchaikovsky em espetáculo que estreia na quinta no Sesc Vila Mariana
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Você acha que os movimentos da dança clássica podem
contar a história do Riobaldo?
Não. Riobaldo era sincopado."
Riobaldo, o personagem que
Guimarães Rosa fez apaixonar-se por Diadorim, anda enfronhado na cabeça de Antonio
Nóbrega. É que o artista, chamado de "múltiplo", está em
dias dançantes. Atrás de passos
autênticos, foi parar em "Grande Sertão: Veredas", o livro narrado por Riobaldo.
"Se o matuto deixar de falar
daquele jeito, teremos Guimarães. Já nosso imaginário corporal vai se perder", diz, refazendo o percurso que o conduziu a "Naturalmente - Teoria e
Jogo de uma Dança Brasileira",
seu novo espetáculo.
Nóbrega, que botou o violino
a serviço do frevo e transformou folguedos em teatro, pretende dar novo sentido à ginga
brasileira. "Quero, a partir do
imaginário corporal popular,
criar um universo que transcenda os limites folclóricos.
Quero pegar a dança do índio, a
capoeira, o frevo e colocá-los
em outro contexto."
A quem tal explicação soa
misteriosa, convém parar um
instante na história de Nóbrega. O artista, nascido em Recife
e radicado em São Paulo, é um
reinventor de códigos. Tocava
violino numa orquestra quando, convidado por Ariano Suassuna, foi integrar o Quinteto
Armorial. Descobriu que havia
mais semelhanças entre Roberto Carlos, frevo e Mozart do
que supunham seus dedos de
instrumentista. Foi então que,
pelas periferias de Recife e pelos paralelepípedos de Olinda,
começou a buscar artistas populares. "Naquele momento,
fui seduzido pelo gestual brasileiro. Agora, consegui codificar
tudo isso", diz, referindo-se ao
novo espetáculo, o primeiro dedicado inteiramente à dança
desde "Figural" (1991).
Entre um número e outro,
ele vai, feito contador de histórias, esmiuçar sua teoria. "Tenho pra mim que esse é um assunto estranho", diz, mais por
prudência que por convicção,
antes de exibir, sem ponta de
pé, um trecho da suíte "Quebra-Nozes", de Tchaikovsky.
"Na música, o Brasil assimilou
o que vem de fora e, ao mesmo
tempo, conservou seus padrões
distintivos. Na dança, não. Frevo e capoeira se comunicam
com as danças do mundo."
Sincopado, "como até Garrincha era", Nóbrega deseja tirar não só os passos, mas ele
próprio, do escaninho reducionista do folclore. "Para me
compreender, sempre falam
em folclórico, raiz. Esse não é o
território onde me ajusto. Meu
trabalho não é de resgate, é de
incorporação de elementos populares à cultura vigente. A carapuça de tradicional não me
cai bem."
NATURALMENTE
Quando: de quinta a sábado, às 18h; e
domingo, às 21h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas,
141, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação indicativa: 12 anos
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