São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2010

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Mostra recupera refinamento de Flieg

Alemão ganha retrospectiva no Instituto Moreira Salles do Rio, que vem a SP em 2011, e livro a ser lançado neste ano

Fotógrafo da 1ª Bienal diz que Photoshop perde beleza da velhice e que Brasil assimilou muitos vícios externos


IARA CREPALDI
EDITORA DE FOTOGRAFIA DA SERAFINA

Das primeiras fotos feitas em 1932 com uma câmera de 3x4, na Alemanha, até a exposição "Flieg: Fotógrafo", que abre amanhã no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, Hans Gunter Flieg, 87, produziu 59 mil imagens. E quase foi esquecido.
Em São Paulo desde 1945, Flieg registrou, até 1988, a expansão industrial, a história do design, da arquitetura, da arte e da publicidade no país. Fotografou para Pirelli e Mercedes, para as agências Standard e Thompson e foi o fotógrafo da primeira Bienal de Arte de São Paulo.
Suas imagens ultrapassam a dimensão documental. São refinadas, elaboradas e modernas. "Ele tinha um trabalho autoral apesar das imposições dos clientes", comenta o fotógrafo Bob Wolfenson.
Com 180 fotos e curadoria de Sergio Burgi, a mostra -que migra para São Paulo em 2011 e fará parte de um livro lançado neste ano- é uma retrospectiva da obra do alemão, que deu entrevista à Folha, por telefone.

 

Folha - Como o movimento Bauhaus [escola de vanguarda alemã que envolvia arte, arquitetura e design] o influenciou?
Hans Gunter Flieg
- Tem a ver com as escolas onde estudei, com as aulas de foto em Berlim, com a arquitetura alemã. A casa dos meus pais tinha esculturas contemporâneas, pinturas atuais, móveis lisos. Eles patrocinavam o museu da nossa cidade, Chemnitz, terra de expressionistas e ligada ao movimento de pintura e artes gráficas.

O senhor era conhecido por ser minucioso mesmo em fotos industriais.
Na Mercedes, para fotografar a produção de caminhões, parei toda a fábrica e deixei os empregados em posição de trabalho, mas imóveis. O diretor disse que, se a agência aparecesse comigo de novo, perderia a conta.

O que acha do Photoshop?
Um aspecto do Photoshop é o embelezamento, como no botox. Mas acho que o envelhecimento é embelezamento. As características de uma pessoa são as marcas de sua vida. Por que esconder? O que sobra? Nada. A manipulação iguala todos. Isso ultrapassa a fotografia, tem a ver com o aumento das populações, com a descaracterização de tudo. Com 190 milhões de habitantes, o Brasil perdeu seus conceitos próprios, sua tradição, e assimilou vícios externos.

Por que parou de fotografar e o que fez depois?
O aumento de fotógrafos diminuiu os cachês, que deixaram de me interessar. Com a idade, a barriga cresceu e já não subo mais em pontes de guindaste. E, com a tecnologia digital, a importação de material analógico ficou escassa. Daí, perdi o gosto e fui trabalhar no meu acervo... E vivi um pouco.


FLIEG: FOTÓGRAFO

QUANDO a partir de amanhã, de ter. a sex., das 13h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 20h; até 21/10
ONDE Instituto Moreira Salles (r. Marquês de São Vicente, 476, Rio, tel. 0/xx/21/3284-7400)
QUANTO grátis




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