São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2010

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Gerald faz ensaio-show e magnetiza elenco

DE LONDRES

Um grupo de 40 atores tem uma missão: encantar um diretor premiado internacionalmente para fazer parte de sua companhia.
Num prédio onde funciona um estúdio para gravações, no leste de Londres, eles se esforçam. Dividem-se e encenam um texto que pouco compreendem.
Ao verbalizar frases sobre quebra das liberdades individuais, tortura, falsa sensação de segurança etc., alguns apelam para a comicidade, outros apenas gritam.
Gerald Thomas sabe que há alguns muito talentosos e outros muito ruins. Mas não é apenas talento que conta. "Eu preciso dessa irregularidade. Não se faz um bom espetáculo só com estrelas."
Entre os bons estão Kevin Golding e Angus Brown, ambos britânicos, e Maria de Lima, uma portuguesa que faz teatro há 20 anos e vive em Londres há 12. Ela tem um rosto forte e olhos que não param e que parecem falar mais do que a boca. "É um bicho. É meio homem, meio mulher", resume Gerald.
A atriz diz que o trabalho com o diretor é imprevisível. "A gente nunca sabe o que vai acontecer, é surrealista."

SHOW DO DIRETOR
Já Brown, que também está no meio teatral há 20 anos, elogia o modo pouco conservador do diretor. "Seu trabalho é muito diferente do que a gente vê por aqui."
Todos estão tentando ser estrelas, mas, nesta fase, o show é do diretor. Gerald se joga no chão, imita trejeitos de alguns, conta piadas e, às vezes, marca o tempo das falas com batidas de pé, como se estivesse regendo uma orquestra. Sobretudo, dá aula -de interpretação, história da arte, música, teatro...
Sem perder o fôlego, cita Schoemberg, Wagner, Shostakovich, John Cage, Philip Glass, Beethoven (música); Peter Brook, Ellen Stewart, Bob Wilson, Pina Bausch, Aristófanes, Samuel Beckett e Peter Stein (teatro); Pollock, Duchamp e Damien Hirst (pintura), entre outros.
A "plateia" delira, ainda que muitos não conheçam metade dos nomes. Alguns olham para o diretor como se estivessem num culto. Nem piscam. "Se eu perceber que me veem como um líder religioso, vou embora e não volto mais. Odeio isso", afirma.
Mas Gerald admite que a relação com os atores e candidatos a atores às vezes é tão prazerosa quanto o resultado final de uma peça. (VM)


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