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Gerald faz ensaio-show e magnetiza elenco
DE LONDRES
Um grupo de 40 atores tem
uma missão: encantar um diretor premiado internacionalmente para fazer parte de
sua companhia.
Num prédio onde funciona um estúdio para gravações, no leste de Londres,
eles se esforçam. Dividem-se
e encenam um texto que pouco compreendem.
Ao verbalizar frases sobre
quebra das liberdades individuais, tortura, falsa sensação
de segurança etc., alguns
apelam para a comicidade,
outros apenas gritam.
Gerald Thomas sabe que
há alguns muito talentosos e
outros muito ruins. Mas não
é apenas talento que conta.
"Eu preciso dessa irregularidade. Não se faz um bom espetáculo só com estrelas."
Entre os bons estão Kevin
Golding e Angus Brown, ambos britânicos, e Maria de Lima, uma portuguesa que faz
teatro há 20 anos e vive em
Londres há 12. Ela tem um
rosto forte e olhos que não
param e que parecem falar
mais do que a boca. "É um bicho. É meio homem, meio
mulher", resume Gerald.
A atriz diz que o trabalho
com o diretor é imprevisível.
"A gente nunca sabe o que
vai acontecer, é surrealista."
SHOW DO DIRETOR
Já Brown, que também está no meio teatral há 20 anos,
elogia o modo pouco conservador do diretor. "Seu trabalho é muito diferente do que
a gente vê por aqui."
Todos estão tentando ser
estrelas, mas, nesta fase, o
show é do diretor. Gerald se
joga no chão, imita trejeitos
de alguns, conta piadas e, às
vezes, marca o tempo das falas com batidas de pé, como
se estivesse regendo uma orquestra. Sobretudo, dá aula
-de interpretação, história
da arte, música, teatro...
Sem perder o fôlego, cita
Schoemberg, Wagner, Shostakovich, John Cage, Philip
Glass, Beethoven (música);
Peter Brook, Ellen Stewart,
Bob Wilson, Pina Bausch,
Aristófanes, Samuel Beckett
e Peter Stein (teatro); Pollock, Duchamp e Damien
Hirst (pintura), entre outros.
A "plateia" delira, ainda
que muitos não conheçam
metade dos nomes. Alguns
olham para o diretor como se
estivessem num culto. Nem
piscam. "Se eu perceber que
me veem como um líder religioso, vou embora e não volto mais. Odeio isso", afirma.
Mas Gerald admite que a
relação com os atores e candidatos a atores às vezes é tão
prazerosa quanto o resultado
final de uma peça.
(VM)
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