São Paulo, quarta, 10 de setembro de 1997.



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TELEVISÃO/CRÍTICA
"Anjo Mau" sinaliza "mexicanização" da Globo

FRANCISCO MARTINS DA COSTA
Editor do TV Folha

"Anjo Mau", a nova novela da Globo das 18h, mostrou a que veio em sua estréia, anteontem. A impressão é a de que a emissora resolveu dar uma "mexicanizada" na sua teledramaturgia, apesar da cuidada superprodução.
Após experimentar inovações como o suspense de "A Próxima Vítima" e o nonsense e a comédia de "Quatro por Quatro", a Globo resolveu voltar no tempo e agora só aposta naquilo que é certo e absolutamente seguro.
Foi assim com "A Indomada" -mais uma trama que se passa no Nordeste com toques de realismo fantástico- e parece que esse será o caminho com "Anjo Mau", que ressuscitou o sucesso de Cassiano Gabus Mendes.
Assim como as novelas mexicanas, o remake de Maria Adelaide Amaral parece ser "compacto", com poucas tramas paralelas e a ação excessivamente centrada na saga de Nice, a babá malvada interpretada por Glória Pires.
Outra semelhança entre novela global e suas concorrentes mexicanas é o uso -ou abuso- de clichês do folhetim. Nice é uma jovem pobre que se apaixona pelo rico empresário, Taís Araújo é uma ex-menina de rua abandonada pela mãe que se envolve com um rapaz sem saber que ele é seu meio-irmão e, para completar, Ariclê Perez pertence à família tradicional que perdeu o dinheiro e faz de tudo para manter o status.
Mais clichês aparecem nos personagens e nas situações, que abusam dos estereótipos. Exemplos disso são a mãe que rejeita a filha, o chefe que abusa das operárias na fábrica, o playboy que trabalha nas empresas do pai e só quer saber de curtir a vida e acumular conquistas amorosas, o inescrupuloso empresário e a perua que não sabe nem alimentar o filho e precisa desesperadamente de uma babá.
Resta saber se essa velha receita, que tem rendido bons índices de audiência ao SBT, vai funcionar na Globo. No primeiro capítulo, "Anjo Mau" registrou uma média de 32 pontos no Ibope (cada ponto equivale a cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo).
O número representa uma evolução ("O Amor Está no Ar" ficava abaixo disso), mas não chega perto das cifras registradas pelas campeãs do horário, como "Mulheres de Areia" e "Sonho Meu".
Se a audiência não subir mais ou cair, ainda resta um velho truque. Não será surpresa se Márcio Garcia e Luciano Szafir começarem a aparecer sem camisa, assim como Leonardo Brício e sua sunga.



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