São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na disputa pelo prêmio máximo, Walter Salles alcança apenas Leãozinho de Ouro

O Leão dos quase famosos


Produção indiana sobre casamento arranjado vence Festival de Veneza, em edição sem favoritos claros


France Presse
A indiana Mira Nair, 43, levou o Leão de Ouro em Veneza, apesar de seu "Monsoon Wedding" não ter sido cotado como favorito


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

A surpresa dominou o resultado do Festival de Veneza, encerrado na noite de sábado.
"Monsoon Wedding" (Casamento nas Monções), da indiana Mira Nair, vencedor do Leão de Ouro, não havia sido apontado como provável escolhido (num ano em que de fato não havia favoritos) pelos especialistas que acompanharam o festival desde o seu início, no dia 29 de agosto.
Poucos, como o crítico David Rooney, da "Variety", citaram o filme de Nair como o seu preferido em meio aos 20 concorrentes ao Leão de Ouro -entre os quais estava o brasileiro "Abril Despedaçado", de Walter Salles (leia texto abaixo).
Natural de Bhubaneshwar, Nair, 43, vive hoje nos Estados Unidos e mantém uma casa também na Índia. A diretora define "Monsoon Wedding" -filme que descreve os preparativos de uma família da burguesia indiana para a cerimônia de um casamento arranjado- como "nada além de um testemunho de vida".
Nair disse que "uma história local dirigida fielmente pode tornar-se universal". E afirmou também que espera que o "poderoso cinema indiano, conhecido apenas por uma metade do mundo, chegue à outra metade".
A Índia, onde não há televisão, é o país que produz o maior número de filmes por ano. Por essa razão e em referência a Bombaim, a produção indiana é chamada "Bollywood".
O rótulo pode ser aplicado a "Monsoon Wedding", mas não a toda a produção de Nair, que prepara o lançamento do perfeitamente hollywoodiano "Hysterical Blindness" (Cegueira Histérica), estrelado por Uma Thurman e Juliette Lewis.
Não menos surpreendente que o Leão de Ouro dado à Índia foi o Prêmio Especial do Júri ao austríaco "Hundstage" (Canícula), de Ulrich Seidl, considerado o mais incômodo filme da mostra, por sua mistura de violência e sordidez no retrato do cotidiano de um grupo de pessoas durante o "hundstage" (15 dias mais quentes do ano) austríaco.
Seidl ultrapassa o conterrâneo Michael Haneke (de "Sunny Games" e vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes com "A Pianista") na exposição de um sujeito moderno desumanizado, mas afirma não ser essa a sua pretensão.
"Sei que meus filmes causam polêmica. Na Áustria, uns adoram o meu trabalho, outros o odeiam. Mas eu considero as pessoas de "Hundstage" absolutamente normais."
O Prêmio Especial pela Direção ao iraniano Babak Payami, por "Raie Makhfi" (Voto Secreto), reconheceu um cineasta em seu segundo filme.
"Espero que esse seja um sinal de que a comunidade cinematográfica internacional está aberta a outras filmografias, como a do Irã", disse, ao receber o troféu.
Da platéia, o cineasta iraniano Jafar Panahi ("O Círculo"), vencedor do Leão de Ouro no ano passado, registrou o discurso com uma minicâmera.
Panahi integrou o júri do Leão do Futuro, atribuído ao esloveno "Kruh in Mleko" (Pão e Leite), de Jan Cvitkovic, que subiu ao palco com uma camiseta estampando a foice e o martelo e dedicou o prêmio ao boxeador Mike Tyson e à seleção nacional de seu país, por "saberem como lutar".
"Raie Makhfi", que trata de um dia de votação no Irã na forma de uma "comédia do absurdo", de acordo com o seu diretor, ganhou também cinco prêmios paralelos, incluindo os conferidos pelo Unicef e pelo Conselho Católico para o Cinema.
Por sua interpretação em "E Sua Mãe Também" (com estréia prevista para 23 novembro no Brasil), os atores mexicanos Gael García Bernal (conhecido no Brasil pela atuação em "Amores Brutos") e Diego Luna receberam o prêmio Marcello Mastroianni para carreiras emergentes.
O filme ganhou ainda melhor roteiro, do diretor Alfonso Cuarón e seu irmão, Carlos Cuarón.

Números
De acordo com a organização do Festival de Veneza, foram vendidos 33 mil ingressos nos 11 dias da mostra, que apresentou 141 filmes, em seis programas. Esse número representa um aumento de 57% no total de público em relação ao ano passado.
Mas o resultado não poupou a direção da mostra de duras críticas da imprensa européia, que aponta a instituição de uma nova seção competitiva -Cinema do Presente, disputando Leão do Ano- como responsável pelo aumento do número e a diluição da qualidade dos títulos.
O 58º Festival de Veneza, primeiro do século 21 e da era Berlusconi, foi caracterizado pelo diário "La Stampa" como mais político que artístico, pelo início do enfrentamento entre um "governo de direita e uma cultura de esquerda".
Para 2002 é dada como certa a queda de Paolo Baratta, presidente da Biennale (instituição que organiza o festival), mas há chance da permanência de Alberto Barbera na direção artística da mostra, cargo que ocupa há três anos.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Ganhadora concorreu a Oscar em 89
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.