|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SHOW
Músicas antigas, como "Billie Jean", são melhor momento do autotributo em NY
Trinta anos depois, o mesmo Michael Jackson de antes
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Um foco de luz no meio do
palco branco. Uma figura reconhecível sai do escuro e vai se
revelando aos poucos. De baixo
para cima, o indefectível mocassim preto com meia branca, calça
pega-frango, camiseta preta.
Como se fosse Chaplin se preparando para encarnar Carlitos, ele
abre uma mala, de onde tira a luva
de mão única prateada (gritos da
platéia), a jaqueta cheia de brilho
(uivos da platéia) e o chapéu preto
(urros da platéia). O baixo inicia
os primeiros acordes, e ele passa a
dançar e falar sobre uma menina
que era uma rainha da beleza.
Vinte anos depois, estão lá os
mesmos gritinhos, as frases cantadas entre respiração e os mesmos passos: o "moonwalking", o
semi-sapateado, os pés parados
em ponta com pernas dobradas
que viraram o logo dos anos 80.
É "Billie Jean", e Michael Jackson, 43, canta cada frase acompanhado pelas 15 mil pessoas que
quase lotam o Madison Square
Garden na sexta-feira à noite, em
Nova York, no show em homenagem aos seus 30 anos de carreira.
Num segundo, você lembra
porque está ali e como valeu a pena esperar duas horas de show até
este momento. E que pena: das
20h40, quando Samuel L. Jackson
abriu a noite, até as 22h45, quando MJ finalmente sobe ao palco
acompanhado de seus irmãos, o
que se vê é uma mistura de baile
da saudade e festa de formatura.
O baile da saudade: Marlon
Brando pedindo dinheiro para
crianças carentes, Liza Minnelli
cantando "You Are Not Alone",
Gloria Stefan destruindo "I Can"t
Stop Loving You".
A festa de formatura: não havia
direção, esperava-se até dez minutos entre as músicas, o som era
na maioria das vezes embolado, o
que não se justifica num show
com ingressos até US$ 2.500.
O aniversariante só entra em cena às 22h49, introduzido pela
amiga Elizabeth Taylor. Emerge
do palco vestido de piloto de F1
estilizado. Atrás, os outros Jacksons, que não se apresentavam
juntos desde 1984. Cantaram
"ABC" e "I"ll Be There" com as
mesmas coreografias dos anos 70.
A noite começava a fazer sentido.
Aí, foi quase uma hora do melhor MJ: de "Beat It" e "Black and
White" até a nova "You Rock My
World" e, a melhor, "Billie Jean".
MJ é vítima da própria genialidade. Tem de conquistar uma geração que nunca comprou um CD
seu, nunca assistiu a estréias de
seus clipes em rede nacional nem
dançou suas músicas em festas.
São meninos e meninas que só
ouvem rap, gênero que domina as
paradas dos EUA e que só floresceu por "culpa" do próprio MJ.
Mesmo as centenas de Máicons
brasileiros, batizados em sua homenagem, hoje têm 15 anos e ouvem Racionais.
Antes de entrar no palco, quando ainda assistia às homenagens
de seu camarote, MJ sentava-se
entre os amigos Macaulay Culkin
e Liz Taylor. Se a vida tivesse legenda, a do trio seria "Começo,
meio e fim da mesma história".
Avaliação:
Texto Anterior: Relâmpagos - João Gilberto Noll: Expansão Próximo Texto: Frase Índice
|