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MÚSICA/CRÍTICA
"Chaos and Creation in the Backyard", novo CD do músico, tem lançamento mundial na segunda-feira
McCartney vagueia entre e melodia e sombra
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
É comum , ao falar de novos
discos de artistas que já estão
há séculos por aí, comentar que o
tal álbum é a volta por cima da
banda, que é o melhor disco do
grupo desde... bem, desde algum
ano do qual ninguém mais se
lembra. Aconteceu com "A Bigger
Bang", o último dos Stones, e talvez aconteça com este "Chaos and
Creation in the Backyard", de
Paul McCartney, que tem lançamento mundial na segunda-feira.
Mas há algumas diferenças. O
argumento de que "A Bigger
Bang" é o melhor disco dos Stones em 25 anos não quer dizer
muita coisa, já que a banda não
fez nada que prestasse realmente
nos últimos 25 anos. McCartney,
por outro lado, até que produziu
coisa de qualidade nesse tempo,
como "Run Devil Run" (tudo
bem, um disco cheio de covers,
mas são covers com personalidade toda própria), "Flaming Pie",
"Tug of War", "McCartney 2"... E
dá até para cair na armadilha: se
não é o melhor, "Chaos and Creation" faz bela companhia a eles.
O álbum não vai converter ninguém a fã de McCartney, 63, mas
vai agradar bastante quem acompanha e gosta deste beatle, hoje a
maior lenda viva da música.
"Chaos and Creation" é o 20º álbum de estúdio de McCartney
desde o fim dos Beatles, em 1970.
Foi produzido por Nigel Godrich,
o homem por trás dos melhores
discos do Radiohead, mas que
não é nenhum milagreiro, vide os
CDs que produziu para o Travis.
Godrich viajou entre Los Angeles e Londres para ajudar McCartney no disco, durante dois anos.
Sua mão é visível nas variações
rítmicas de algumas canções, nas
pontuações eletrônicas, no clima
sombrio de certas baladas. A
maioria das músicas tem em torno de três minutos; é álbum rápido, que não cansa, melódico, bem
McCartney. Mas é um disco que
vale pelo instrumental; as letras,
várias delas, são sofríveis.
O primeiro single, "Fine Line",
abre o álbum com classe. McCartney sabe construir melodias que
grudam no ouvido. A música poderia ser um bom pop descartável, mas ganha contornos não óbvios de guitarra e teclados.
Já "How Kind of You" é uma
bonita declaração de amor. "Pensei que tudo estava perdido/ Pensava que nunca encontraria alguém tão generosa quanto você".
A melancolia logo toma as rédeas,
em "Jenny Wren": "Como tantas
outras garotas/ Jenny Wren podia
cantar/ Mas um coração partido
levou sua alma embora".
Em "Friends to Go", McCartney
canta, quase suplica: "Estive esperando do outro lado/ Para que
seus amigos saiam/ Então não terei que me esconder/ Prefiro que
eles não saibam". "English Tea",
de letra terrivelmente nonsense,
sobre como seria passar manhãs
tomando chá, é levada por um
violino e piano -é a mais Beatles
do álbum, e lembra muita coisa
que está em "Let it Be".
"Riding to Vanity Fair" começa
quase taciturna, bem lenta, mas
vai ganhando corpo; parece que
McCartney incorporou um Massive Attack. Outra boa surpresa é
"Promisse to You Girl", em que o
beatle canta: "Dei minha promessa para você, garota, Não quero
quebrá-la/Você e eu, lado a lado,
nós sabemos como mudar o
mundo/ Por isso fiz a promessa a
você, garota", e a harmonia alterna entre um rock de guitarra e um
refrão com coro a la Beach Boys.
Mas há canções nada inspiradas. "At the Mercy" é uma típica
música mccartiniana, com as inflexões vocais, introspectiva. Mas
ele não ajuda quando canta "Se
você me mostrar o amor, eu não
vou recusar". "This Never Happened Before" e "Too Much Rain"
são baladas redondas, de melodia
fofa, mas que não chegam a empolgar. "Anyway" tenta encerrar
o disco com alguma surpresa, trazendo barulhos, muitos efeitos
psicodélicos, mas parece perdida,
sem nada a dizer.
"Chaos and Creation" não é
perfeito, mas quando McCartney
acerta, ele pega fundo.
Chaos and Creation in the Backyard
Artista: Paul McCartney
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 35, em média
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