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Veneza se rende pela 2ª vez a Ang Lee
Taiwanês radicado nos EUA ganha novamente prêmio máximo em festival italiano, dois anos após "Brokeback Mountain"
Cate Blanchett, por interpretação de Bob Dylan, foi a melhor atriz; De Palma ganha direção por filme sobre conflito no Iraque
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM VENEZA
É um fato inédito. Que cineasta ganhou o prêmio máximo de um grande festival de cinema com dois filmes realizados consecutivamente?
Pois Ang Lee conseguiu esse
feito anteontem, ao receber o
Leão de Ouro do Festival de Veneza por "Se, Jie" (luxúria, cuidado), bela e intrincada história de amor e espionagem situada na China dos anos 40.
O prêmio causou espanto
porque, há apenas dois anos,
Lee subiu no palco para receber
exatamente o mesmo prêmio
-por "O Segredo de Brokeback
Mountain", seu longa anterior.
Lee se torna, assim, o terceiro cineasta na história de Veneza com dois Leões de Ouro. Os
outros são Louis Malle, por
"Atlantic City" (1980) e "Adeus,
Meninos" (1987), e Zhang Yimou -presidente do júri nesta
edição-, por "A História de Qiu
Ju" (1992) e "Nenhum a Menos" (1999).
Exagero? Injustiça? Talvez.
Mas não é difícil entender o resultado quando se vê a própria
composição da competição e do
júri. Lee representa uma espécie de síntese da seleção deste
ano, que tanto privilegiou o cinema americano e o asiático.
Nascido e criado em Taiwan,
formado nos EUA, ele se tornou um cineasta capaz de transitar pelas duas cinematografias e de realizar, com a mesma facilidade, filmes conectados às
suas raízes ("O Banquete de
Casamento") e espetáculos para grandes platéias ("O Tigre e o
Dragão").
Outros títulos da seleção poderiam receber, com dignidade,
o Leão de Ouro, mas certamente nenhum foi capaz de mobilizar com a mesma intensidade o
júri, composto só por cineastas
-Paul Verhoeven, Alejandro
González Iñárritu, Catherine
Breillat, Jane Campion, Ferzan
Ozpetek e Emanuele Crialese,
além de Yimou. A premiação
pareceu sensata, reconhecendo
o que havia de melhor.
O prêmio de melhor diretor
ficou com Brian de Palma, que
apresentou o mais inovador e
polêmico filme do festival, "Redacted" (editado) -recriação
de eventos brutais da Guerra
do Iraque e, ao mesmo tempo,
uma compilação de novas formas de captação e difusão audiovisual.
Incluídos entre os favoritos,
"I'm Not There" (não estou lá),
de Todd Haynes, e "La Graine
et le Mulet" (o grão e o peixe),
de Abdellatif Kechiche, dividiram o Leão de Prata (Prêmio
Especial do Júri).
O primeiro é o melhor filme
do cineasta independente americano (de "Longe do Paraíso");
o segundo, um belo representante do novo cinema francês.
Filho de imigrantes tunisianos,
Kechiche despontou com o belo "L'Esquive". Seus filmes representam, com força cinematográfica, a vida dos imigrantes e seus familiares, que, até então, estavam quase invisíveis na
cinematografia francesa.
"I'm Not There" levou, ainda,
o prêmio de melhor atriz, para
Cate Blanchett, que de fato
apresenta uma impressionante
caracterização de Bob Dylan.
Cabe a ela a fase mais polêmica
do pop star, quando ele incorporou guitarras e o rock.
Já o prêmio de melhor ator
causou espanto: ficou com
Brad Pitt, pelo filme "The Assassination of Jesse James by
the Coward Robert Ford".
Os principais ausentes da
premiação foram "In the Valley
of Elah" (no Vale de Elá), de
Paul Haggis, "Nightwatching"
(vigilância noturna), de Peter
Greenaway, e "Les Amours
d'Astrée et de Cedalon" (os
amores de Astrée e Cedalon),
de Eric Rohmer, que angariaram muitos defensores.
O jornalista PEDRO BUTCHER se hospeda a convite do Festival de Veneza
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