São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Woody Allen estréia ópera, e Plácido aplaude

Tenor e diretor da Ópera de Los Angeles elogia versão do cineasta para "Gianni Schicchi", do italiano Puccini

Diretor transpôs obra da Florença medieval para a Itália contemporânea em trabalho considerado "pequeno triunfo" por críticos


CLAUDINE MULARD
DO "LE MONDE", EM LOS ANGELES

O cineasta norte-americano Woody Allen fez uma estréia notável na Ópera de Los Angeles, no último sábado. Dirigiu "Gianni Schicchi", ópera em um ato de Giacomo Puccini (1858-1924), que ele queria apresentar em ritmo tão dinâmico quanto um velho filme italiano em preto-e-branco.
"Bravo! Bravo!", exclamou o tenor Plácido Domingo, diretor artístico da Ópera de Los Angeles. Ele vinha cortejando há muito tempo o realizador de "Annie Hall" e "Manhattan", cujo mais recente filme, "Vicky Cristina Barcelona", estréia no Brasil em novembro. "Na noite de hoje [sábado], os cantores de ópera provaram até que ponto eles também podem ser grandes atores", disse Plácido.
O tenor promoveu uma abertura de sucesso para a temporada da Ópera de Los Angeles, que celebra o 150º aniversário de nascimento do compositor italiano. "Gianni Schicchi" é a parte final de uma trilogia de Puccini chamada "Il Trittico", cujas duas primeiras porções, "Il Tabarro" (drama passional no cais do rio Sena) e "Suor Angelica" (penitência e suicídio em um convento italiano), foram encenadas sob a direção de outro cineasta, William Friedkin ("O Exorcista").
Para a porção final da trilogia, Allen surpreendeu ao transpor o trabalho de Puccini da Florença medieval para a Itália contemporânea e ao animar todos os personagens do espetáculo, que gira em torno da disputa de uma herança. A marca de seu humor e de seus trocadilhos foi injetada na ópera por meio de um letreiro em uma tela onde se lê "Prosciutto e Melone Productions".
"Woody contribuiu muito com seu talento", disse Plácido ao "Le Monde". "Essa idéia de um cenário em preto-e-branco foi maravilhosa, e nos fez ler nas entrelinhas daquilo que Puccini nos disse."
""Gianni Schicchi" é um pequeno triunfo em termos de direção de ópera", afirmou o diário californiano "Orange County Register". Mark Swed, crítico de música do jornal "Los Angeles Times", foi mais efusivo: "Trata-se de uma produção impecável. Woody Allen realizou a façanha de ser a um só tempo impertinente e fiel ao espírito da música e da obra".
Allen não subiu ao palco para ser aplaudido, mas esteve lá para a noite de gala. "Eu não estava na sala", disse. "Estava jantando no Disney Center. Não gosto de assistir a estréias, porque não há mais nada que eu possa fazer. Caso as coisas corram bem, excelente. Se não..."

Quebra da regra
"Eu mesmo escolhi a obra e todo o elenco. Amo ópera, mas não é algo a que eu assista com freqüência. Não conhecia essa peça. Mas a música é tão bela!", disse Allen. E em que consiste o desafio da ópera, para um novato? "Impedir que 15 pessoas fiquem colidindo umas contra as outras em espaço restrito."
O diretor decidiu transgredir as regras da ópera, mantendo todos os personagens no palco o tempo todo, mesmo sem ter o que cantar. "Não conseguia imaginar como poderia deixá-los lá sem fazer nada. Para mim, fazer com que interpretassem era mais natural, porque esse é o meu hábito."
Ele contou que recebeu propostas para dirigir outras óperas e até mesmo para filmar "La Bohême", de Puccini, mas não planeja reorientar sua carreira ao novo campo. "Não vou dirigir uma ópera de três horas."
O "Trittico" de Puccini foi seguido no domingo pela estréia de "The Fly", dirigida por outro cineasta, David Cronenberg.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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