THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

São até promissores os primeiros momentos de "7 Vezes", novo disco do Rappa. "Meu santo tá cansado", avisa Falcão no início da música que abre o álbum ("Meu Santo Tá Cansado"). Mas a esperança vai embora em seguida, quando percebemos que a letra traz a mesma tentativa de crítica social presente em quase toda a discografia da banda.
Fala-se bastante em como o grupo teve de se adaptar sem Marcelo Yuka, principal compositor do Rappa até 2002.
Quando um compositor medíocre é lembrado como uma referência a ser seguida, é porque a coisa está feia.
Na maioria das letras de "7 Vezes", vê-se que a banda pretende se mostrar engajada, consciente, atenta às mazelas sociais, principalmente àquelas do Rio de Janeiro.
Mas, na primeira audição, os versos mostram-se primários ("Disciplina de trem, virtuose na vida/ Tem maioria tem/ Maioria contida tem nordestina tem/ Na havaiana furiosa ruminando"; de "Fininho da Vida"), feitos com clichês em cima de clichês ("Gatos humanos espreitam/ Choram mimados meu rango", de "Hóstia").
O Rappa não diz nada novo, não oferece um ponto de vista diferente; é sempre mais do mesmo ("Tentei ser crente/ Mas meu Cristo é diferente/ A sombra dele é sem cruz", de "Meu Mundo É o Barro").

Reggae e dub
Musicalmente, o disco segue na mesma linha. "Minha Alma" e "Súplica Cearense" têm guitarra que vão em um caminho já bastante percorrido e meio esburacado de reggae e dub; um cansado ska toma conta de "Farpa Cortante". "Monstro Invisível" é delineada com um insosso arranjo funk.
Em algumas partes, lembram Red Hot Chili Peppers nos piores momentos; em outras, um Rage Against the Machine anêmico; quando se arriscam no funk, no soul, falta cuidado, tato, sensibilidade.
"Maria" é das poucas que trazem algum frescor -arranjo manso, num groove quase devagar. "Nosso som não é barulho/ Nosso grito não é aviso", canta Falcão. Pena que a banda não deu bola para esses versos no restante do disco.