São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Penguin chega ao país ao lado da Cia. das Letras

Editora nacional fecha parceria com tradicional casa britânica, especializada em publicação de clássicos

Novo selo vai lançar 12 livros no ano que vem, com preços entre R$ 15 e R$ 35, como "Memórias de um Sargento..." e "O Príncipe"

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Em 1935, ao voltar de uma visita à escritora Agatha Christie no interior da Inglaterra, o editor britânico Allen Lane procurou e não achou nas bancas da estação de trem um livro de qualidade para ler na viagem a Londres. Meses depois, saía o primeiro título da editora Penguin, criada por ele, que desde então se especializa em edições bem cuidadas de clássicos a preços acessíveis.
Hoje parte do império de publicação Pearson, com 1,5 mil títulos em seu catálogo de clássicos, R$ 2,7 bilhões de vendas em 2008 e presente em 15 países, o trem da Penguin faz sua próxima parada no Brasil. A editora britânica anunciou ontem em Nova York uma joint-venture com a brasileira Companhia das Letras, a primeira em língua portuguesa.
O novo selo, batizado Penguin Companhia Clássicos, lança seus primeiros títulos em 2010. Espera-se que no primeiro ano saiam 12 livros e que a média chegue a 24 -ou um a cada quinzena- nos anos seguintes, com picos de até quarenta títulos por ano. Serão edições com tiragem inicial de 5 mil exemplares e preços que variarão entre R$ 15 e R$ 35.
Encabeçam a lista inicial "O Príncipe", de Nicolau Maquiavel, que ganha prefácio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um tucano no ninho de pinguins; "Memórias de Um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, com introdução e notas de José Murilo de Carvalho; "O Brasil Holandês", organizado por Evaldo Cabral de Mello; e "Jorge Amado Essencial".
O último, com seleção, introdução e notas de Alberto da Costa e Silva, será a versão brasileira da importante subcoleção "The Portable", uma seleção do mais relevante na obra de um autor, que no Brasil se chamará "Essencial".
Além disso, haverá o selo Penguin Companhia, com os clássicos em língua portuguesa que não estão no catálogo da Penguin Classics. Na edição dos dois selos estarão Matinas Suzuki Jr. e André Conti.
A junção das empresas serve a dois interesses. A Penguin procura entrar no mercado potencialmente imenso das economias emergentes e de língua não inglesa. Nos últimos anos, lançou iniciativas semelhantes na China, na Índia e na Coreia do Sul. Agora, chega ao Brasil.
"O Brasil tem um potencial de crescimento enorme, com muitas oportunidades na área de livros de educação, por exemplo", disse à Folha John Makinson, presidente e diretor-executivo da Penguin. "Faltava achar o parceiro certo, com o enfoque certo."
Já a brasileira busca ampliar sua participação no mercado dos clássicos, fatia cobiçada pelas editoras pelo custo relativamente barato de produção das obras. "Nós sempre nos interessamos pelos chamados livros de permanência", disse Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras.
Instado pela reportagem, Makinson confirma que o projeto da Penguin é expansionista e não deve parar no Brasil nem em formatos tradicionais. Envolve educação e mais presença em leitores eletrônicos como o Kindle, que ele chama de "frenemies", junção das palavras "amigo" e "inimigo" em inglês. "Mas lentamente, sem comprometer a qualidade."
Indagado sobre se não teme ser engolfado por tamanho gigante -o faturamento mundial da Penguin é igual ao faturamento de todo o mercado editorial brasileiro-, Schwarcz diz que não. "É uma operação conjunta, um diálogo real, de construir listas título a título."


Texto Anterior: Brasil é dos países com menos salas no mundo
Próximo Texto: Comida/Crítica: Japonês, Sapporo se aventura pelo ceviche peruano e por pratos chineses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.